quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Amarra Experimental por Natasha Siviero

Não leia se estiver com preguiça.
Ouvi um coro de “Canta,canta,canta!”. Acho que foi aí que despertei do cochilo. Minha prima, Camila, estava no meio da roda. Apesar de ter perdido os minutos precedentes pude prever,pelo sorriso cínico que esboçava,que ela havia dito que tirou “O cantor da família” ou algo parecido.Sei,porque é assim sempre.Tio Carlos faz que não vai cantar,mas por fim acaba cedendo aos frenéticos pedidos da família e entoa qualquer coisa de Roberto Carlos.Ele sabe que não canta direito,sabe que todos debocham, mas finge que acredita que são elogios sinceros.É um carente, um artista frutado e ultimamente anda aceitando qualquer platéia, até a dos meus tios fanfarrões.
Eu sempre cochilo depois que ganho meu presente, mas hoje havia sido particularmente difícil pegar no sono, e eu sabia que não ia conseguir esse feito outra vez.É que tia Miranda sentou-se do meu lado, e isso me fazia lembrar do exato momento que passei a detestar o natal.Foi quando eu tinha oito anos incompletos.Na hora de dar a pista do meu amigo-X disse que era “A tia beata solteirona”.Lembro que meu pai sempre usava esse termo pra se referir a tia Miranda, e todos riam.Mas quando eu disse ninguém riu,e eu não entendi.Hoje entendo.
Como eu previa, minha tia Mia,logo depois do episódio do tio Carlos,aproveitou-se do meu desapertar pra começar o sermão costumeiro:A importância do natal.
A característica mais marcante da tia Miranda,depois da beatice,ou talvez até antes, era a pão-duragem.E antes que ela chegasse na parte do consumismo, que justificava o fato de ela não comprar presente nunca,me antecipei:
_Tia sem saudosismo, por favor.
Ela ignorou o meu pedido e prosseguiu dizendo que o verdadeiro sentido do natal,o nascimento de Jesus,estava sendo perdido com a cultura do consumismo.
Rebati o que é altamente desaconselhável porque encoraja a discussão sem-fim, munida da antropologia que desconheço completamente, e divaguei alguns minutos sobre o significados de festas pra os povos desde os primórdios.
É realmente difícil competir com tia Mia, mas às vezes eu até ganho.Finalmente fiz um ‘panorama histórico’ sobre a evolução do natal.Continuei com o velho clichê, que não chega ,contudo, a ser tão velhos que a tia Mia.Enfim, disse que o natal é originalmente uma festa pagã,mitraica,que celebrava o vitorioso Sol em decorrência do solstício de inverno.Honestamente não me lembro onde tirei isso.Certamente da Super-Interessante ou de alguma conversa de bar.O fato é que eu disse.E falei tanto que ela desistiu de falar.
Claro que não perdeu o ar de superioridade e de deboche que só as avós e tias boazinhas sabem.Mas no fim,aceitou o presente que a minha mãe deu de bom grado,se bem que isso ela faria de todo modo.


* * *

Por falar nisso...

Mudaram as regras pra os comerciantes exibirem os preços dos produtos.Um decreto lei do Governo Federal determinou que deverão constar nas mercadorias etiquetas indicativas do preço, ou deverá haver um terminal de consulta a no máximo 15 metros do item.
Foi bom pro consumidor, a Fátima disse.Esqueceu,contudo, de informar pra quem e de que forma esses gastos- referentes aos equipamentos que deverão ser adquiridos pra o cumprimento do decreto- serão repassados. Mas isso não é relevante.O importante é que o consumidor não mais passará pela humilhação de perguntar o preço ao vendedor ou de ter que ,arduamente, decifrar uma informação manuscrita.Pagar um pouco a mais não é problema, desde que saiamos da loja com um produto devidamente etiquetado.

5 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto..
O primeiro me lembrou a minha própria familia. É impressionante como toda familia tem alguma coisa incomum. A tradição da minha no Natal é ter uma discórdia. De modo q pra mim Natal sem um "batebocazinho" - mesmo q seja leve - não é Natal!

E o detalhe do preço, concordo. Que fique mais caro, mas q tenha etiqueta!
¬¬'

Anônimo disse...

Com toda possível chatiação, eu tenho muito apreço por reuniões familiares.
principalmente se a família é grande, como a minha. Vai ter confusão, vão ter coisas chatas, mas no fundo é bom estar perto de pessoas que realmente se importam conosco. O natal é um bom momento pra isso! pra falar a verdade, é por isso que gosto do natal.

Simone Azevedo disse...

Eu gostaria de ter reuniões de família com tias chatas,deboches e bate-bocas.Adoraria ouvir sermões chatos e anacrônicos sobre a importância desta ou daquela outra outra comemoração.
Adoraria ter tios desafinados e primas loucas.
Eu tenho tias chatas,tenho tios desafinados e primas loucas.Mas minhas tias não dão sermões,meus tios não cantam e minhas primas não fazem loucuras.
Eles nunca estão felizes o suficiente pra isso.Ou nunca estão comigo.

Anônimo disse...

Mto bom como sempre...

qnto os preços, concordo...
têm q ter entiquetas em todos eles...

é um abuso nao ter... nao sabermos o prço daquilo q estamos comprando direito!

bjooo

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

ha! mto bom o texto das reuniões família d natal! tem sempre alguém q s acha no direito d vir dar sermão na gnt... uma tia ou tio sem noção q faz uma brinkdeira q quase estreaga festa... hilário...
e aqui estou eu, em colatina - mais conhecida como sauna, forno, calderão do inferno... - com a casa cheia de gente, para comemorar o natal... quero só ver o que vai dar dessa vez... rsrsrsrsrsrs

Concordo plenamente c o detalhe do preço!!! vlw pela informação, Tashinha^^