segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ave Franklin. Por BruneLLa França.

Quarto Poder, Conselho Federal de Jornalismo, blogosfera, um toque de futurologia e outras coisinhas mais

200 Anos de Imprensa no Brasil. Quase 200 no Espírito Santo. Para comemorar a data, um fórum com o objetivo de discutir comunicação. A iniciativa é muito boa, visto que a comunicação tem que ser discutida sim. Mas quando o debate é puxado pela maior empresa de comunicação do Estado, aí, óbvio, as coisas ficam mais parciais que de costume (se alguém ainda vier com aquele discurso de ‘imparcialidade’ da imprensa eu corto relações!).

Na primeira palestra, ouvimos o jornalista José Casado, de O Globo. A fala dele foi, desde o início, construindo a imprensa como a guardiã da democracia. Casado deu exemplos de casos como o do correspondente do New York Times, Larry Rother, que foi ameaçado de expulsão do País por uma matéria na qual ressaltava o gosto do presidente Lula por bebidas. A frase mais usada pelo jornalista durante sua fala foi: “A democracia não está integralmente consolidada no Brasil”. Para Casado, falta respaldar a democracia com a irrestrita liberdade de expressão.

Não cometerei a hipocrisia de dizer que sim, nós vivemos na democracia plena. Mas também não posso embarcar nessa defesa quase cega de que a imprensa é um dos pilares da democracia. Primeiro, há de diferenciar aqui duas liberdades que são usadas como sinônimos e não são. Liberdade de expressão é uma e liberdade de imprensa é outra.

A liberdade de se expressar é um direito personalíssimo, ou seja, individual e intransferível, pelo qual todos e todas têm direito, sempre respeitando a Constituição Federal (regrinhas básicas de convivência, como não caluniar, não difamar e não injuriar o próximo, nem fazer acusação sem provas estão descritas lá; quem quiser se arriscar, que arque com as conseqüências). Já a liberdade de imprensa está atrelada ao direito à informação, que também é um direito de todos e de todas.

Deixando esses pontos bem esclarecidos, podemos prosseguir. Lá pelo final da fala de Casado, foi aberta ao público a oportunidade de fazer perguntas. Uma delas questionava a posição do jornalista em relação à criação do Conselho Federal de Jornalismo. Não acredito que alguém que acompanhou toda a palestra dele pudesse ter dúvidas de que ele se pronunciaria contra.

Lembram-se da emblemática frase do Ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, "uma mentira contada mil vezes torna-se verdade"? Ela cabe bem no que eu quero expor aqui. A imprensa se auto-determinou o Quarto Poder. Produziu discursos que criam essa sensação e é defendida como tal. Acontece que a imprensa – e os jornalistas que dão corpo a ela, em sua maioria – tanto fizeram para passar o discurso que acabaram acreditando nele. E eis o problema!

Na República, o regime democrático vigente no Brasil hoje, temos os três poderes. E eles não vieram do nada. A Teoria dos Três Poderes foi consagrada pelo pensador iluminista francês Montesquieu. Baseando-se na obra Política, do filósofo grego Aristóteles, e na obra Segundo Tratado do Governo Civil, publicada pelo inglês John Locke, Montesquieu escreveu sua obra, O Espírito das Leis, traçando parâmetros fundamentais da organização política liberal adotada pelo Ocidente (é sempre bom situar o contexto tratado).

Montesquieu foi o responsável por explicar, sistematizar e ampliar a divisão dos poderes que fora anteriormente estabelecida por Locke. Pela obra do filósofo, é fundamental estabelecer a autonomia e os limites de cada poder. Criou-se, assim, o sistema de freios e contrapesos, o qual consiste na contenção do poder pelo poder, ou seja, cada poder deve ser autônomo e exercer determinada função, porém o exercício desta função deve ser fiscalizado pelos outros poderes. Assim, pode-se dizer que os poderes são independentes, porém harmônicos entre si.

Muito bem. Muito bonito. E onde entra a imprensa nisso aí. Entra e não entra. O Quarto Poder, como está hoje, não é fiscalizada por nenhum outro poder. Qualquer tentativa – não de fiscalizar, mas de regulamentar, como é a idéia do Conselho – é rechaçada sob a alegação de censura. A imprensa se coloca como um dos pilares da democracia sem ser, todavia, democrática. O auto-entitulado Quarto Poder se coloca e acredita estar acima de todos os outros e assim quer permanecer (ou alguém ainda acredita que o jornalismo hoje faz revolução? É muito mais fácil trabalhar para manter o status quo).

Após a fala de José Casado, tivemos uma mesa redonda sobre o futuro da imprensa. Compunham a mesa o professor doutor do curso de comunicação da Ufes, José Antônio Martinuzzo; a secretária de comunicação de Vitória, Ruth Reis; o diretor de telejornalismo da rede Gazeta, Carlos Tourinho e, como moderador, o diretor de redação de A Gazeta e Notícia Agora, Carlos Antônio Leite.

É claro que o tema principal foi a convergência de mídias, as mudanças que a internet está trazendo – sim, é no gerúndio mesmo! – para o campo da comunicação, as possibilidades e os desafios desse novo meio. Sempre cauteloso, o professor Martinuzzo puxou a reflexão lembrando que nós vivemos hoje o futuro do passado, damos os passos que alguém pensou bem antes de nós. Assim, fica mais fácil desenhar possíveis cenários, flexíveis sempre, porque a tecnologia avança cada vez mais rápido.

E foi aí que chegamos à blogosfera. Blogueiro é jornalista ou não é jornalista? A resposta aqui é bem clara – vou até usar o caps lock – NÃO, BLOGUEIRO NÃO É JORNALISTA. Antes que me chamem de puritana radical, continuem lendo, por favor. Blogueiro não é jornalista simplesmente porque blogueiro não é uma profissão, não vem de uma ciência, não é um saber-fazer. Blogueiro é aquele ou aquela que tem blog. Então blogueiro pode ser jornalista? Se o blog é de um jornalista, sim. Se não é, dificilmente.

Fato: o mundo não cabe na imprensa, no jornal (Oooooooooooooh! Pois é, sinto muito se o seu mundo caiu e a casinha do Bob também!). O jornal é um recorte, um ângulo de visão, um simulacro de realidade. Agora o mundo cabe na internet. É claro que se eu quero uma informação sobre uma banda eu terei muito mais num site ou num blog do próprio artista ou de um fã do que na imprensa. Motivo óbvio: o artista e o fã tem muito mais informações a respeito do trabalho dele do que o jornalista de um caderno de cultura e entretenimento por aí.

Agora, se eu quero saber alguma coisa sobre economia ou política, também posso procurar blogs de pessoas que escrevam sobre o assunto. Aqui vem uma coisinha chamada credibilidade (construída pela imprensa com aquele discurso furado de objetividade, neutralidade e imparcilaidade – mas foi tão bem feito que colou, fazer o que?!).

Sim, eu sei que o discurso jornalístico exerce uma grande influência na constituição da experiência coletiva de um real cotidiano. Sei também que o simples fato de um acontecimento estar inserido ou não no campo dos discursos jornalísticos implica em que faça parte ou não do repertório de atualidade do público. Resumindo, eu sei que o discurso jornalístico tem autoridade na sociedade (democrática ocidental, é bom deixar claro).

Mas isso não impede ninguém de querer – e poder – construir o seu próprio discurso, a sua própria mídia, a sua própria verdade no espaço blog. Será que só porque não é um jornalista – ou pretenso jornalista – postando aquilo que ali se escreve é uma deliciosa viagem na maionese? Mesmo em se tratando de campos que requerem um grau de análise e conhecimento maior, como a economia e a política?

Se vivemos partilhando um mesmo contexto, se vivemos todos num mundo capitalista, se somos todos seres pensantes, por que só quem está autorizado a falar, só quem tem credibilidade é o jornalista? Por que a sociedade assim determinou? Ou por que a imprensa assim determinou? (Lembram da discussão sobre o Quarto Poder mais acima? A-ha!)

Aqui podemos inserir a pausa para o coffee break. Após o debate, tivemos mais uma palestra, desta vez sobre assessoria de imprensa no mundo contemporâneo. Mas nada que os alunos de Martinuzzo já não tenham ouvido em aula. A palestrante só usou uma série de termos estrangeiros, dificultando a compreensão de todos e todas, ou seja, dificultando a comunicação (que coisa, não?)!

Eu só acrescentaria aqui o significado de stakeholders – quando a palestrante falou sobre isso, eu vi muita gente com mais cara de paisagem que nas outras palavras. Stakeholders – simplificando (é o espírito jornalístico!) – são os grupos de influência de uma organização.

Bem, o objetivo deste texto é fomentar o debate acerca de tudo que aqui foi abordado. Então, agora é a sua vez. Gritem, esperneiem, esbravejem nos comentários. Divirtam-se!



domingo, 16 de novembro de 2008

Ave Franklin. Por BruneLLa França.

Dialogus istranhus

Interlocutor pergunta:
- Bru, o que é o jornal pra você?

Bru responde:
*silêncio - não que eu não tenha o que responder, mas sim porque eu sempre prefiro pensar um pouquinho antes*
- O jornal... O jornal é uma babel quase vazia de sentido...

Interlocutor diz:
- Uau! Eu não esperava por isso! O jogo está ficando interessante! Quase vazia de sentido?

Bru responde:
- É. Não tem nenhuma crítica ali, nenhuma reflexão. Tudo bem que se cria a ilusão de que ao ler aquele jornal você fica bem informado, sabe do que aconteceu no mundo. Doce - ou amarga - ilusão! Os jornais estão mais preocupados em vender um mundo transparente, simples e perfeitmente acabado, em manter as coisas como elas estão... É uma questão de semiótica...

Interlocutor desprevenido fica em silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Mais um pouquinho de silêncio.
Finalmente, ele questiona:
- O que é semiótica?

Bru fala:
- Tem um livro da coleção primeiros passos com esse título, exatamente. O que é semiótica. É bem fácil de ler...

Interlocutor pergunta:
- Não tem como me adiantar o assunto?

Bru responde:
- Ok. Acomapnha o raciocínio. 
Qualquer ato comunicativo envolve a construção de sentidos, pois essa característica é própria da linguagem. O mundo, porém, não apresenta uma face legível que temos que decifrar apenas. A realidade - múltipla e complexa - não tem um significado anterior ao momento de sua verbalização e interpretação. Cada um dá sua forma a ela, entende? 

Interlocutor confuso:
- Ham... Não sei.

Bru esclarece:
- O que eu quero dizer é que o mundo em que vivemos, a realidade ou as realidades, os relacionamentos, os indivíduos são construções, da linguagem. Tudo é texto. Não no sentido de ser letrinhas juntas, mas da origem da palavra, tecido, tessitura.

Interlocutor confuso²:
- E cadê a sua semiótica?

Bru explica:
- Está aí! Eu disse que tudo é texto. É  a semiótica que estuda esses textos. O que está dito e o que se quer dizer no mundo, nas realidades, nos jonais. A semiótica é tudo (especialmente para Lele!), resumindo.

Interlocutor diz:
- Hum... Sabe, eu tava aqui pensando (uau!) No que você disse sobre o jornal... Mas você faz jornalismo!

Bru confirma:
- Eu estudo jornalismo. Sim, e daí?

Interlocutor pergunta:
- E você vai trabalhar no jornal?

Bru responde:
-Não necessariamente, mas é sempre uma possibilidade.

Interlocutor pergunta:
- O que é o Jornalismo, então?

Bru responde:
*silêncio para pensar*
- Numa síntese... A arte de parafrasear!

Interlocutor se indigna:
- Mas isso é fácil demais.

Bru joga um balde de água fria:
- É óbvio que não, meu bem.

Interlocutor em dúvida:
- Então, qual é o segredo?

Bru responde:
- Vocabulário chave, possíveis parafraseados chaves (não me refiro ao desenho!), e, é claro, COMO fazer a paráfrase! Ha ha ha! Mais uma vez, uma questão de semiótica!

Interlocutor se recolhe.


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ave Franklin! Por BruneLLa França.

O discurso da mudança ganhou os Estados Unidos

As desconfianças do mundo em torno do resultado da eleição estadunidense terminaram no anúncio de Barack Hussein Obama Jr, de 47 anos, como o mais novo residente da Casa Branca. Sim, os Estados Unidos da América elegeram o primeiro presidente negro da história do país. Quarenta e quatro anos após o fim da segregação racial, Obama é o 44º a assumir o governo daquela nação (recuso-me a fazer análises esotéricas aqui!).

Após dois longos – e duvidosos – mandatos de George W. Bush, os democratas voltam ao poder. Obama conquistou os eleitores com seu carisma e retórica. O primeiro presidente democrata a alcançar a maioria absoluta dos votos válidos. Não é pouco para um político considerado tão jovem, que sai do Senado diretamente para a Casa Branca.

O mais impressionante é como Obama conseguiu votação tão expressiva sendo um candidato de fora do establishment dos partidos. Nas primárias do partido, ele derrotou ninguém menos que a senadora Hillary Clinton, então favorita para disputar as eleições deste 4 de novembro.

O lema “Yes, we can” foi gritado por jovens, negros, brancos, mulheres. Uma verdadeira multidão assistiu ao discurso da vitória do jovem presidente na noite de ontem em Chicago.

A vitória de Obama foi nada menos que arrasadora. Ele venceu com folga no Colégio Eleitoral e no voto popular. E os estadunidenses ainda lhe deram maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, um cenário promissor para o novo presidente. É claro que o desastroso governo de Bush contribuiu para a derrota dos republicanos. O fim da “era Bush” era quase um clamor dentro dos EUA. Outro fator que teve importante destaque na eleição foi / é a crise financeira que sacode o mundo e ajudou a sepultar as últimas chances de McCain.

A campanha de Obama também merece destaque. O trabalho de comunicação organizacional foi praticamente perfeito. A maior marca da campanha dele - e o motivo pelo qual a eleição americana não mais será a mesma - foi o uso revolucionário da internet para arrecadar nada menos que US$ 700 milhões e a utilização de diferentes canais de mídia para divulgar sua candidatura.

Os discursos feitos durante a corrida presidencial foram considerados brilhantes. Obama frisou que foi o único a se opor à guerra do Iraque desde o início e defendeu um cronograma de retirada das tropas, palavras que foram de encontro ao clamor do povo estadunidense.

Assolado pela crise financeira e desgastado pelo governo Bush, um discurso inflamado, cheio de esperança e proferido por um jovem candidato convocando o povo à mudança encontraram eco e apoio entre o eleitorado. O resultado quase não podia mesmo ser diferente.

Com o apoio do mundo, no dia 20 de janeiro Brack Obama assumirá o governo da (ainda) maior potência econômica e militar do planeta. E é claro que ele vai trabalhar para manter esse status. Fica a expectativa do COMO fará isso, já que, pelo perfil, Obama é contrário a guerras.

O mundo inteiro também aguarda as diretrizes do novo presidente para a economia. A questão de Cuba também é outro ponto a se prestar atenção. E o Brasil, bem, nós devemos ter uma dificuldade maior para exportar produtos para os EUA. A política protecionista deve se intensificar. O problema da imigração também deve ser tratado por Obama, mas, então candidato, esse tema não foi muito abordado durante a campanha.

O que não se pode negar é que para os Estados Unidos a eleição de Obama é, de fato, uma (r)evolução.

O discurso da vitória