segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Ave Franklin! Por BruneLLa França

Para começar o ano, um quase-manifesto...
Até quando?

O dia hoje amanheceu bem típico de inverno na minha cidade: sol, calor, pássaros cantando e meu gato exigindo seu café da manhã. Pego o jornal e não vejo nada de novo: corrupção; discursos pós-vitória nas urnas do excelentíssimo presidente; oposição e governo divergindo em mais alguma coisa; economistas com a panacéia para todos os males; cidadãos fazendo suas reclamações; outra charge bem bolada... enfim tudo muito anacrônico. Coisa mais sem graça!
Queria estar chegando da escola e receber uma estranha correspondência para alguém que eu não conheço na minha caixa de correio. Sim, porque na minha caixa de e-mail não cabem mais tantas correntes, mensagens ensinando a salvar o mundo, piadas de gente sem ter o que fazer, lixo e mais lixo eletrônico. Tudo que eu quero é encontrar um Alberto Knox pra me tirar dessa realidade patética e encontrar filósofos, pensamentos, reflexões, indagações que valem a pena.
Seria ótimo poder olhar para essa aldeia-global, dar-me o direito de não querer saber de nada e quando a coisa ficar pra lá do suportável, encontrar um buraco no meio de um jardim e cair num mundo onde não existe fome, muito menos violência - seja de que tipo for; as pessoas são saudáveis; as famílias são felizes e estão unidas; os vizinhos se conhecem, se cumprimentam; o respeito às diferenças é lei cumprida; as pessoas dividem seu tempo de viver; não existem desigualdades sociais e o Estado é um instrumento coorporativo, que não representa opressão, nem superioridade. Infelizmente, o mundo real está bem longe do mundo de Sofia. Escorregamos quase todos e preferimos estar aninhados bem embaixo dos pêlos do coelho que saiu da cartola do universo! Os que tentam subir são imediatamente puxados para baixo. Afinal, fugir do senso comum é proibido. Eles não querem que isso aconteça ou então perderão o poder de dominação e manipulação do planeta. E os grandes transnacionais, apesar de poucos, são uns caras bastante fortes, ou então não governariam 6 bilhões de pessoas!
Outra senhora que não pára de nos perseguir é a tal da globalização. Ô dona chata essa! Pelo menos todos os dias você ouve falar e fala dela. Uns a defendem - são seus filhos mais queridos: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Itália - , a maioria aceita o que esses seis pregam e quase não há os que se rebelam e criticam os modos de agir dessa dona. Existem ainda aqueles que sofrem as piores conseqüências das políticas globais e sequer sabem de sua existência. Sejamos realistas. Mesmo na era das telecomunicações on-line até a informação é negada aos filhos africanos. Marginalizados, humilhados, viciados nas soluções-tampão oferecidas por organismos internacionais e governos superficialmente preocupados com a situação desses desvalidos, eles não interessam aos neoimperialistas.
Mas suas riquezas sim. Todos querem o subsolo africano. Para tomar posse dele, porém, é preciso primeiro que não existam mais os africanos. Por isso, se milhões deles vivem abaixo da tal linha da pobreza, estão sujeitos à fome, à pandemia da AIDS e outras doenças, a condições de vida desumanas, pouco importa. Deixar que eles desapareçam é interessante para os artífices do capitalismo selvagem.
Assim como também é extremamente benéfico o estágio de subdesenvolvimento do resto dos povos. Afinal, alguém tem que fazer o trabalho pesado, alguém tem que subsistir para sustentar o opulência, a luxúria, a ganância da nobreza global! “Locupletaremos em cima dos pobres. Plantaremos elites domesticadas que garantirão o controle das massas e nossas regalias!”, é o ensinamento do irmão Estados Unidos a seus cinco fiéis seguidores.
Não dá mais para continuar assim! Já virou um clichê dizer que todas as revoluções necessárias para um mundo melhor pressupõem uma revolução da educação e a infra-estruturação dos países atrasados sócio político econômico e tecnologicamente, embora seja uma verdade incontestável. É sabido por todos que a superexploração do trabalho leva apenas ao enriquecimento dos exploradores da mão de obra, constituindo a má utilização dos recursos humanos, e mesmo assim ela continua existindo e se expandindo cada vez mais. A devastação do meio ambiente e a má utilização dos recursos naturais são prejudiciais a nós mesmos, é o assinar do contrato de extinção da vida neste planeta.
Até quando vamos ficar apenas olhando para estatísticas, dados, resultados de estudos e achando que não temos nada a ver com isso? Por que temos que continuar comprando verdades enlatadas? Até quando a inércia nos impedirá de humanizarmos os benefícios do progresso científico? Até quando veremos milhões de pessoas morrendo de fome ou doentes e nos daremos o direito de apenas sentir pena e mudar de canal?
Nesse momento, tudo que eu queria era me chamar Sofia Amundsen! Mas isso não é uma solução, sequer é uma rima. O ideal seria que pudéssemos reformar o mundo com a mesma matéria que compõe os sonhos!

*sonhando ser Sofia Amundsen

6 comentários:

Sylvia Ruth disse...

Ainda falta muita coisa pro mundo ser bom de viver, mas olha aí um ano inteiro, em branco, pra gente ver se ajuda a nós mesmos.

Anônimo disse...

Quando cantamos "adeus ano velho, feliz ano novo" meus olhos se enchem de lágrimas, porque sinto que, ao abraçar as pessoas, todas anseiam realmente por um ano melhor mas, que nunca chega.A incerteza, o medo, tem marcado a vida do cidadão brasileiro. Boa pergunta: até quando viveremos essa situação? Deixo a todos o dito de Mahatma Gandhi: Todos devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo.

Simone Azevedo disse...

Quem sabe não deveríamos "refletir" sobre os "ensinamentos" de pai fundador do anarquismo HENRY DAVID THOREAU.
Seus ensinamentos inspiraram Gandhi na derrubada de um império.
O livro do Gênesis,A DESOBEDIÊNCIA CIVIL foi a bíblia seguida pelo libertário supracitado.

"Não é dever de um homem, na verdade, devotar-se à erradicação de qualquer injustiça,pois ele pode perfeitamente estar absorvido por outras ocupações.Mas é seu dever(...)não lhe dar apoio em termos práticos.Se me dedico a outras ocupações e projetos,devo ao menos verificar se não o faço sentado sobre os ombros de outro homem."

"Leis injustas existem: devemos contentar-nos em corrigí-las, obedecer-lhes até trinunfarmos ou transgredí-las desde logo?"

"Vim a este mundo não,principalmente,para fazer dele um lugar bom para se viver,mas para viver nele,seja bom ou mau."

Não vou transrever o livro aqui.Mas essas são algumas passagens interessantes.

vale a pena conferir.

Simone Azevedo disse...

PS: se seus pais não deixam vc sair,namorar,ir a festas e encher a cara a madruagada toda, seus problemas acabaram.
Leia A DESOBEDIÊNCIA CIVIL e apredenrá contornar essa situação dominadora.
Se vc chega sempre no horário estipulado, precisa do concentimento do papai pra ficar com esse ou aquele cara, e a mamãe não permite que vc ingira sustâncias alcóolicas, DESOBEDIÊNCIA CIVIL é a chave.Sempre dá certo.

*não me levem à sério*

Anônimo disse...

Muito bom o texto!Realmente precisamos sair de nosso estado de estagnação e parar de achar que os problemas sociais para serem resolvidos não precisam da contribuição individual de cada um que compõe a chamada "sociedade" mas de grandes medidas políticas e economicas apenas.

Obs.:Obrigada pela mensagem Bru.

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Mãe (Elza), Gandhi tem toda razão! A mudança precisa começar em nós! Dentro de nós, dentro de casa, pra depois ganhar as ruas...

Simone, eu amei a sua dica sobre a desobediência civil do Gandhi p os jovens! Ha! vou seguir o "conselho".

Fabrícia, d nada! ^^