quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Quero Ser Miriam Leitão. Por Sylvia Ruth

Um, dois, três e PAC!


Na última segunda-feira o governo apresentou o tão esperado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que promete investimentos suntuosos em infra-estrutura, além da facilitação do investimento privado e aperfeiçoamento do gasto público. Esse aguardado filho de Lula chega para nortear as ações econômicas do governo nos próximos quatro anos e para engatilhar novos investimentos privados.

Ainda é cedo para dizer se o PAC vai funcionar mesmo. Mas que o programa é bom, é. E a maior parte desses investimentos vai para infra-estrutura (R$ 503,9 bi), o que faltava a muito tempo no país. Os gastos são bem divididos: logística (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias); energia (geração e transmissão de energia elétrica, petróleo e gás natural e combustíveis renováveis); e infra-estrutura social e urbana (saneamento, habitação, transporte urbano, Luz para Todos e recursos hídricos).

A reforma e construção de novas estradas ainda vai beneficiar a agricultura, que alguns falaram que foi deixada de lado no projeto. Na verdade, investir na reconstrução da malha rodoviária e na difusão de alternativas de transporte é fundamental para engrenar não só a agricultura, mas toda economia.

A lógica é simples: boas estradas facilitam o escoamento da produção, diminuindo o gasto com transporte, o dinheiro que sobra pode ser investido na ampliação dos negócios, aumentando a produção, incentivando a contratação e diminuindo o desemprego, então aquele que estava desempregado se torna uma nova força produtiva ativa, que vai consumir mais e melhor, aumentando a sua qualidade de vida e da sua família, etc, etc, etc. É lógico também que toda essa transformação é lenta, mas acontece.

Além disso. Se as estradas são boas e bem sinalizadas, depende só do condutor comum ser cauteloso, para que diminuam os acidentes de trânsito. E aí, o que você investe em melhoramento das estradas, é o que você não precisa investir em saúde amanhã, por causa de acidentes de trânsito – sem contar os gastos com previdência se a pessoa fica incapacitada de trabalhar, seja por algum tempo ou pelo resto da vida, ou até mesmo se a pessoa morrer, o que é uma força de trabalho a menos.

Quanto aos investimentos em energia, não há o que falar. Ontem a noite, o presidente dos EUA, George W. Bush, mostrou que até os norte-americanos estão interessados em se desprender do infame ouro negro. Enquanto aqui no Brasil do trintão Pró-álcool aliado ao Bio-diesel já está mais que claro que os dias de soberania do petróleo estão contados.

Com mais capacidade energética, o preço da energia cai, e o preço dos produtos também. Valorizar o gás natural brasileiro é não se deixar vulnerável pelos problemas do gás boliviano, o que tranqüiliza investidores. Fontes menos agressivas ao meio ambiente são um grande investimento em longo prazo, que beneficiam o planeta todo.

Sobre a infra-estrutura social e urbana, é muito positivo ver que o saneamento entrou na pauta, afinal, investir em saneamento é investir em saúde. O que você investe em tratamento de água e esgoto hoje, é o que você não precisa investir em tratamento de doenças amanhã.

Em habitação, com uma casa boa (e própria) a pessoa se livra do aluguel. O que ela gastava com ele, pode gastar comprando uma televisão de plasma de 71’ polegadas, uma câmera digital melhor que a Tecpix, um Ipod de 80GB, ou simplesmente oferecer melhores condições de estudo para seus filhos.

Mas a maior polêmica desse pagode todo é sobre o FGTS, não sei se por incompetência dos nossos queridos colegas de trabalho jornalistas, que não cansam de falar sobre o que não sabem e acabam fazendo polêmica, afinal quem é que vai pagar o salário deles? Sinceramente, eu não entendi direito essa história, talvez porque cada fonte diz alguma coisa (geralmente bem diferente umas das outras), e como eu não sou doutora no assunto, eu não sei em quem acreditar.

Mas vamos esclarecer uma coisa: quem entrou com o pedido de anticonstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal foram três centrais sindicais: a Força Sindical, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, e não todos os sindicalistas do país. Até porque os trabalhadores também têm participação no Conselho Curador do Ministério do Trabalho que determinou as modificações do FGTS – inclusive a Força Sindical que, segundo informação do site da Central Única dos Trabalhadores (CUT), não havia sido contra a decisão.

Então, caro leitor, vou botar aqui o link para uma reportagem do site do Ministério do Trabalho, a favor da medida e outro da Força Sindical, que mostra o outro lado. Você faz unidunitê e escolhe quem tá certo, okey?

Agora sério. O plano é bom, tem tudo pra dar certo, embora não seja perfeito. Não sou eu nem a Miriam Leitão quem vai dizer se o plano vai funcionar, isso fica a cargo do tempo. O importante é o governo conseguir a confiança necessária pra articular o que precisa ser articulado pras coisas funcionarem direito, já que não adianta tomar um Danone Activia sem manter uma dieta saudável e hábitos regulares. O plano sonha alto, e quanto maior o tanto, pior o tombo. Então, que o PAC dê certo e eu não precise ficar aqui criticando o que pode transformar o nosso país.

8 comentários:

Anônimo disse...

torço pelo pac, acho que como todo brasileiro, pois parece-me o mais lúcido passo dado na economia nacional a muito tempo.

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

O governo anuncia o PAC fazendo estardalhaço, dizendo que o país vai crescer num ritmo bem maior q o ano anterior...
Expectativa no ar!
O Copom vai anunciar a nova taxa de juros e... apenas 0,25% na redução da taxa!!!
Será q dá mesmo p acreditar nos prometidos efeitos do PAC???
Resta-nos torcer e aguardar...

Simone Azevedo disse...

O plano prevê mudanças substanciais, mas uma coisa é fato e me preocupa: os nossos dirigentes governam pela elite e para a elite.
Investimentos em infra-estrutura econômica não vão mudar a vida de milhares de pobre e miseráveis que necessitam de INFRA-ESTRUTURA SOCIAL.
Tá tem isso no plano também. Mas conhecemos bem a história política do nosso país, e sabemos das falsas promessas de melhoria ECONÔMICA para esta gerar lenta e gradualmente a melhoria social.
Pois é, as melhorias econômicas aconteceram. Crescemos 50 anos em 5, contemos a inflação, nos transformamos em um dos maiores países exportadores. enfim, nossa economia vai bem, obrigada.
Mas quanto as mudanças sociais, essas ficaram tão lentas e graduais que até hoje não há previsão de se concretizarem.
Acho que esse vai ser mais um plano puramente econômico que nada tem de social que vai (como sempre) favorecer a elite.

É DE REFORMAS DE BASE QUE PRECISAMOS.

*Eu tbm não entendi nada sobre o FGTS.

Simone Azevedo disse...

Eu tenho uma pergunta:
pelo pouco que entendi sobre o FGTS nessa história toda, é que ele funcioanria como um fundo no qual no governo meteria a mão pra financiar o PAC.
Como se fosse um empréstimo que em vez de fazer à instituições credenciadas para este fim, o governo resolveu meter a mão grande direto no bolso dos trabalhadores.
É isso????????????????????????

*Espero resposta, por favor*

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Eu non entendo tanto d economia qta a Sylvia, mas eh basicamente isso sim. Mas o FGTS vai ser uma aplicação do trabalhador... ele vai ter um retorno com isso. é um investimento a médio/longo prazo.

Simone Azevedo disse...

E então Sylvinha, a grande mestra de economia do Jota-i, estamos explomovendo certo sobre o PAC?

Sylvia Ruth disse...

Como diria Jack estripador, vamos por partes.

1. Eu falo sobre economia, e na área de economia, ao menos teoricamente, o plano é bom.

2. O que falam sobre o FGTS no relatório entregue à impressa é o seguinte:

"Criação do Fundo de Investimento
em Infra-Estrutura com recursos do FGTS

Descrição: criação do Fundo de Investimento em Infra-Estrutura, com valor inicial de R$ 5 bilhões, com recursos do patrimônio líquido do FGTS, podendo ser elevado para o valor de até 80% do patrimônio líquido do fundo, que atualmente é de cerca de R$ 20 bilhões. Além do aporte do FGTS, os trabalhadores também poderão comprar cotas do fundo até o limite de 10% do saldo de suas contas no FGTS.

Impacto: aumento do financiamento de investimentos em infra-estrutura."

Hoje, para fazer um investimento com o dinheiro do FGTS, a pessoa precisa de uma liberação de um conselho nacional responsável por isso, para que a pessoa não embarque numa barca furada, assim também será com este novo projeto. Mas além disso existe um resguardo da Caixa Econômica, se não me engano, então, o risco é pequeno.

Dizem que com essa "linha de investimento" o risco é maior, mas este risco o trabalhador corre por conta própria. É como investir em ações, você pode estar muito bem hoje, mas perder tudo amanhã.

O negócio é que, segundo a imprensa, existem coisas mal esclarecidas nessa parte do PAC.

Mas eu entendi o seguinte: o governo vai pergar 5 bilhões do FGTS para investir em infra-estrutura, quem quiser ir junto com o governo pode aplicar 10% da sua conta do FGTS. O lucro que o negócio estiver dando é seu, depois de 5 anos que o dinheiro estiver investido, você não paga mais imposto de renda sobre ele.

Dúvidas: quais são os critérios de avaliação de possibilidade de investimento? Quais garantias serão dadas ao trabalhador? E se os 5 bi que o governo pegou der prejuízo (isola isso por favor!)?

Será necessária uma emenda constitucional para liberar essa parada do FGTS.

Amanhã tem reunião do Ministro do Trabalho com as lideranças sindicais, para que sejam esclarecidas algumas dúvidas, então pode ser que as nossas dúvidas também sejam esclarecidas. Quarta-feira eu falo mais.

Sylvia Ruth disse...

Esqueci:

3. Porque o governo não pede um empréstimo ao FMI, Banco Mundial ou ao Silvio Santos?

Juros né, juros. Meu irmão prefere pedir dinheiro a mim, que não combro juros, a pedir dinheiro ao banco - o governo também.