quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

O que Irrita a Jaqueline. Por Jaqueline Mainardi

A dominante ideologia burguesa

“Vai trabalhar vagabundo.” Qual o discurso inscrito nesta frase? De que pressuposto partimos para compreendê-la?

Esta curta frase que encerra apenas quatro palavrinhas é substancialmente longa em sentido. Quando a lemos, conceitos, valores e arquétipos adquiridos ao longo de nossa formação social agem de modo a dar-lhe um amplo sentido. Imediata e involuntariamente associamos todo indivíduo que não trabalha a uma condição de vagabundagem, improdutividade. E, associamos ainda o trabalho a um modo digno de adquirir respeito e consideração dentro do convívio social.

Essas concepções fazem parte da ideologia burguesa. Uma ideologia que, por ser dominante na sociedade capitalista na qual vivemos, sobrepõe-se sobre as demais.

O que mais irrita a Jaqueline é saber que vivemos uma realidade aparente, uma falsa realidade. Mascarado sobre os ideais de liberdade e igualdade, o capitalismo, maior expressão do modo de vida burguês, financia-se da exploração tal como em um sistema escravista.

Teoricamente, do ponto de vista burguês, a relação de trabalho é uma troca entre indivíduos livres e iguais e o salário é o pagamento de um trabalho realizado. Entretanto, ao analisarmos a fundo a essência dessa troca “livre e igualitária”, veremos que, ao vender não o seu trabalho, mas sim a sua força de trabalho, ou seja, o ato de produzir, o trabalhador não recebe o valor integral pelas horas de produção, mas sim uma parte, muitas vezes ínfima, e o excedente não-pago é o sobrevalor do qual o capitalista se apropria. Esse sobrevalor é o que vai originar o lucro. Alem disso, necessitando desse valor pago para sua sobrevivência, o trabalhador se vê atrelado ao seu empregador, o que não deixa de ser uma espécie de dependência.

Onde estão a “liberdade e a igualdade” expressas tão ardorosamente pelos privilegiados defensores do modo capitalista burguês de produção?

O que vemos, pois, são relações de exploração que aparecem como troca, opressão como igualdade e sujeição como liberdade.

A Jaqueline está irritada. A Jaqueline está furiosa. A Jaqueline está possessa. E sabem o que mais irrita a Jaqueline? É saber que grande parte dos leitores deste artigo, filhinhos de papai, burgueses, que não precisam enfrentar jornadas desumanas de trabalho para receber um pagamento miserável que mal dá para comer dignamente, irão ler, pensar um pouco a respeito, sensibilizar-se, concordar com quase ou tudo que está escrito aqui e voltar à sua confortável, agradável, privilegiada e cor-de-rosa rotina sem levantar uma palha para mudar essa situação.

Isso irrita muito a Jaqueline Mainardi.

6 comentários:

Anônimo disse...

Vejamos, me considero um dos privilegiados dotados de uma rotina cor-de-rosa que irão apenas ler, pensar a respeito, sensibilizar-se, concordar com quase ou tudo que está escrito e voltar à conforável rotina cor-de-rosa que vc citou, e, certo, não levantarei sequer uma palha para mudar a situação.

Mas agora vejamos, que palha eu poderia mover para, de fato, ajudar a mudar a situação ?¿? Não acredito que as entidades que se dizem capazes de mudar a situação são realmente capazes de mudar a situação. Não tenho nenhuma vocação para sozinho começar uma "revolução", não acredito em uma revolução, não uma que se inicie com base no nosso sistema atual.

Sinceramente, a única possibilidade que vejo para que uma
"mudança de sistema" seja possível é o surgimento de uma nova civilização sem nenhum traço de nossa cultura atual, o que, talvez, seja possível por meio da evolução natural das espécies.

Gostaria de estar errado, gostaria que alguém conseguisse convencer-me (com argumentos palpáveis) que há outra saídapara tal problema.
Sim, pode parecer apenas mais uma forma de se acomodar e voltar à boa e velha rotina cor-de-rosa sem mover uma só palha mas é, realmente, a única saída que vejo: plantar a idéia de "outros sistemas" nas próximas gerações e esperar que os milhares de ano façam o seu trabalho.

Anônimo disse...

acho que as horas maciças de trabalho "forçado" não permitiriam que muitos parassem pra pensar sobre tal problema, e depois disso ainda tivessem força e organização para reagir à situação.
mas faço da sua a minha irritação, Jaqueline!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Feliz com seu retorno Jaqueline!
Compartilhando de sua irritação...

Simone Azevedo disse...

Jaqueline, eu não sou filhinha de papai burguesa, portanto não vivo uma privilegiada rotina cor-de-rosa.Não visto essa "carapuça" pq me enquadro muito mais na rotina cinza dos trabalhadores.
Compartinho completamante da sua irritação.Tudo que vc falou aqui me irrita e me deixa furiosa tbm.
Eu não posso começar uma revolução sozinha.
Nem tampouco tranformar a raça humana, extinguindo seus piores defeitos, mas faço a minha minúscula parte na tarefa de "mover a palha" pra mudar a lamentável apartação social em que vivemos.
EU DENUNCIO.
Foi exatamente por isso que eu escolhi a prifissão jornalista. Escolhi pela responsabilidade social que ela encerra.
E mesmo sabendo que é uma tarefa árdua e complicada mudar essa situação, não é por isso que vou ficar de braços cruzados diante de tanta injustiça que salta aos olhos.
O papel que pretendo desenpenhar atuando como denunciadora é ínfimo diante do que precisa ser feito.
Mas, se por isso eu me esquivar da minha responsabilidade, não estarei sendo justa, ética, cidadã nem humana para com os outros e principalmente para comigo mesma.

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Simone, s vc quiser uma parceira p começar a revoução, tamos aew!!!!!!
só combinar!!!!!

Simone Azevedo disse...

Brunella, vamos combinar sim.
Eu já estou dando os primeiros passos.
Muito sutis ainda, mas já estou.
E vc tbm está.
Tornaremos esses passos sutis em pisadas estrodosas.
huiahuhauhuahuahauhauahuahauhauahua