domingo, 1 de abril de 2007

Ave Franklin! Por BruneLLa França.

O neoliberalismo e a ditadura dos chips

O paradigma do neoliberalismo começou a reger o mundo capitalista a partir da década de 1980. Analisando os ciclos tecnológicos percorridos desde a Revolução Industrial do século XVIII, podemos situar o nascimento do modelo econômico no final do Ciclo da Eletrônica, encerrado em 1990, superado pela ascensão do Ciclo da Informática, ainda em curso, segundo o modelo da “evolução criadora” do economista austríaco Joseph Schumpeter. E, ao atingir o atual período científico e tecnológico, o capitalismo colocou muitos países e regiões do planeta num único sistema. Tornou o mundo praticamente sinônimo de planeta.

Concebida por estadunidenses e ingleses, a doutrina neoliberal foi rapidamente aceita pelas demais potências e entrou em processo expansionista. O neoliberalismo vigente vai além da autonomia do setor econômico ao Estado. Ele visa, ainda, a manipulação das economias periféricas segundo os interesses financeiros dos centrais, haja vista o mercado estar acima da autonomia dos países e influenciar na governabilidade das periferias, exercendo também uma dominação cultural e de informações.

Para alcançar essa dominação, difunde-se a implantação do “Estado Mínimo”, que tem três alicerces principais: a desregulamentação dos mercados, as privatizações de estatais e a falência dos princípios de bem-estar social. Essa tríade configura o cerne do capitalismo selvagem.

A filosofia minimalista do Estado consiste na redução do controle estatal sobre o próprio Estado, sobretudo no palco econômico. Assim, propaga-se entre os subdesenvolvidos a venda ao capital privado, geralmente internacional, de diversos setores de suas economias. É interessante ressaltar, todavia, que os artífices do neoliberalismo não o adotam totalmente. Um exemplo dessa situação á a política de subsídios do governo estadunidense aos produtos nacionais e a conservação de setores considerados estratégicos, leiam-se os de telecomunicações e energia, sob o jugo do Estado. Isso é intervencionismo estatal na economia daqueles que mais defendem a adoção do modelo neoliberal.

Conseguir que ele seja adotado nos países em desenvolvimento é uma estratégia vital. Nesse contexto, a midiática dos países centrais é imprescindível. É preciso vender a desvinculação do Estado da economia como a panacéia para os gravíssimos problemas estruturais enfrentados nas nações que não atingiram o estágio de desenvolvidos. Nesses países, esse dogma econômico é aceito com as desculpas da necessidade de capital para investimento interno; a modernização das antigas estatais; maior qualidade de produtos e serviços; promessa de menores preços com a livre concorrência e outras. Desse modo, às potencias neoimperialistas, o neoliberalismo enseja o controle do desenvolvimento sócio-econômico-político-cultural do globo. O resultado disso é a neocolonização das periferias do planeta.

O carro-chefe desse processo é a tecnologia. Isso ocorre porque se vende um endeusamento dos recursos tecnológicos, dominados por um seleto grupo de países ricos liderados pelos Estados Unidos. Essas nações tornaram-se ‘escravas da tecnologia’, pois foi o “modelo anglo-saxão” de orientação predominantemente liberal que proporcionou as condições ideais para a deflagração da revolução tecnocientífica contemporânea, que se estrutura na microeletrônica, na informática, nas telecomunicações e na biotecnologia. Esses setores da indústria recebem altos investimentos estatais e despontam como os mais importantes da economia desenvolvida.

Essa visão é imposta na tentava de desvalorizar as riquezas naturais e a importância territorial, características de alguns países subdesenvolvidos com grande potencial desenvolvimentista. Sabemos que a associação entre recursos naturais, extensão territorial, densidade demográfica e localização estratégica é que define a potencialidade de um país. Afinal, é possível atingir o desenvolvimento tecnológico, mesmo que em longo prazo. Improvável, porém, é recuperar recursos naturais intensamente degradados em curto prazo ou ainda aumentar as dimensões territoriais.

Os países desenvolvidos praticamente já esgotaram a potencialidade de seus solos agricultáveis. A importação dos gêneros alimentícios, portanto, é uma necessidade imanente. Além disso, a expansão territorial chegou aos limites de suas fronteiras, o crescimento demográfico está comprometido e assiste-se a uma, ainda pequena, desaceleração da economia mundial.

Assim sendo, é preciso analisar mais profundamente os princípios neoliberalistas antes de adotá-los. É importante que haja um flexibilidade em tais princípios para que atendam às necessidades que cada país apresenta nas dimensões econômicas, políticas, culturais, científicas e tecnológicas. Ademais, antes de se colocar integralmente sob a ditadura dos chips, vale se perguntar a quem ela é interessante. Essa análise é peremptória.