sábado, 5 de maio de 2007

Dia do leitor por Aline Dias

Eu preciso falar de Roberta, se não sufoco. Ela me marcou pelos olhos medrosos de menina que se escondia atrás da porta quando eu entrei pra falar com ela. Ela se vestia com saia curta e blusa curta. Contava do cliente que pagou para rasgar-lhe o vestido.
Por mais que Roberta fizesse tudo e parecesse ter pouco medo, não era daquilo que ela gostava. Quando eles pediam, ela mal acreditava.
Roberta casou-se grávida aos quinze anos de idade. Era só uma menina que seria feliz para sempre com o primeiro namorado. Por algum motivo, no entanto, ele não bastou. Os dois se divorciaram. Ela, que sempre foi comerciante, abriu uma boate para vender mulher. Ficou rica, tinha carro importado e dólares. Não obstante, agüentar o tranco da boate não era para alguém doce como ela. Roberta não levaria o mundo das drogas nas costas.
Tinha uma grana boa e resolveu viver por conta. Acontece que dinheiro acaba e a grana dela foi-se. Dinheiro fácil e bom ela sabia bem como ganhar. A comerciante então se vendia, sem beijos ou promessas de casamento. Ela se vendia e se escondia do mundo. Havia a puta, mas por trás dela havia alguém que não teve tempo de ser adolescente e resolveu compensar as paixões aos trinta e cinco. Sexo era profissão e entre um programa e outro ela procurava o rapaz que lhe agitava o coração.
Roberta sabia de toda a ironia. Sabia que o rapaz não podia saber de nada e agüentava o tranco da desconfiança bem fundamentada dele. Era o que ela era, afinal. E ela se perguntava se ele a amava quando ele a pedia que largasse tudo e passasse fome.
Roberta não passaria fome. Nos sonhos dela ninguém meteria a mão. Se a menina tinha aflorado aos trinta, que ficasse ali por mais quinze anos.
Ela não saberia quem gostava dela ou não. Permaneceria ouvindo músicas sensuais e se remexendo na cama, de bruços, queixo apoiado na mão e sonhos sem fim.
Que fiquem registrados, então, os olhos doces da menina Roberta.
*** Aline acompanhou a colunista Simone Azevedo durante a etrevista. É portanto testemunha ocular.

6 comentários:

Anônimo disse...

finalmente um texto seu senhorita!!! tá muito bom!!!
!!!!!!!!!!!arcanjo!!!!!?

Amora disse...

Aline, voce é muito escritora mesmo

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Aline, não seria justo non postar aqui!
Esse texto não permite q retiremos dele os olhos!
Está simplesmente tudo!
*reverencia*

Anônimo disse...

De fato Aline é muito escritora.
Adorei Roberta por você!

Beijos!

Simone Azevedo disse...

adorei a companhia da aline durante a entrevista.
vamos repetir!

Sylvia Ruth disse...

Aline literalizou a entrevista da Simone - e muitíssimo bem.