sábado, 10 de março de 2007

A Venenosa por Simone Azevedo

O que rola no baile funk
“Sou cachorra, sou gatinha, não adianta se esquivar. Vou soltar a minha fera, eu boto o bicho pra pegar”. Essa é a letra que embala a batida alucinada na noite das cachorras, das gatinhas, das purpurinadas, das poposudas e das preparadas. Calça justa, mini-saia insinuante, sorriso arregalado e rebolado provocante é a mais nova onda que agita a galera na madrugada dos fins de semana.
Vestir uma calça que dá o maior trabalho pra tirar de tão justa, e descer até o chão ao som de “desde, desce, desce glamurosa, sobe, sobe, sobe glamurosa”, não é o programa favorito da colunista que vos escreve. Mas, por amor ao jornalismo, eu fiz esse sacrifício, a fim de revelar aqui tudo o que rola no baile funk.
O funk tem origens na periferia. O programinha chato e mal produzido da Rede Globo, apresentado por Regina Case, Central da Periferia, tentou mostrar um pouco dessa cultura pop. Mas, não é só na periferia que essa “filosofia de vida” está “bombando geral”. A cada dia, esse estilo despojado e liberal invade as “áreas nobres” das cidades. E as mais variadas classes sociais estão entrando com tudo na dança, ou melhor, no “pancadão”.
A polêmica que gira em torno dos bailes funks consiste na desvalorização da figura feminina e na liberação sexual expressas nas letras das músicas. A mulher é tratada e retratada como um mero objeto sexual. E esse estereótipo da mulher-objeto é reforçado pelas roupas excessivamente provocantes que mais parecem propagandear um produto à venda. O comportamento das mulheres que aderem e esse estilo, também contribui muito para isso. Mas elas, as mais prejudicadas com tal associação, não estão tão indignadas assim.
Conversei com algumas meninas no baile. Elas dizem freqüentar o baile semanalmente e se consideram funkeiras natas. Perguntei sobre o significados desses “apelidos” que designam as “espécies” de funkeiras: cachorras são garotas que topam tudo, libera geral, “pegam” geral no baile; gatinhas são as mais difíceis, mais meigas; purpurinadas são as garotas que vão ao baile excessivamente maquiadas e produzidas, são as “patricinhas” do funk; preparadas são as que sempre estão prontas para o sexo casual, com disposição e preservativo sempre à mão; e poposudas são as que possuem uma região glútea avantajada.
Em nenhum momento elas disseram se sentir desvalorizadas ou vista como mulher-objeto, mas disseram se considerar objeto de desejo. E gostam dessa associação. Michele, de 18 anos, estudante de história, disse se sentir desejada e apreciada pelos homens, mas não como um objeto sexual. Todas foram unânimes em dizer que o importante é a diversão.
Não posso e nem quero negar que a batida é contagiante e não foi tão sacrificante descer até o chão, mas podem me chamar de careta, conservadora, reacionária, tia, o que for, o fato é que há uma grande desvalorização da mulher e banalização do sexo nos bailes funks e nas letras das músicas. E nem é preciso apontar as conseqüências desse comportamento, pois todo mundo sabe o que acontece depois de nove meses se a camisa-de-vênus for para o espaço. Sem falar das DSTs.
O funk tem uma batida divertida e é muito bom descer até o chão, mas ouvir aquelas letras obscenas não é agradável, sobretudo por desvalorizar a mulher. E eu, como mulher, não me sinto à vontade com isso. Por isso, não recrimino o estilo, mas sim algumas letras que infelizmente são a maioria.
Dá próxima vez que eu for a um baile funk levarei meu CD com a música “Quem disse que Tropicalismo é arte”. Essa sim, vale a pena ouvir, alem de descer até o chão, é claro.

6 comentários:

Sylvia Ruth disse...

Mas e agora, tão aprofundada no assunto, diga-nos Simone: e o funk, é arte? Tropicalismo eu sei que é arte!

Simone Azevedo disse...

Sylvia, essa missigenação vanguardista que um certo grupo de um certo ceminário de história da arte fez certa vez entre tropicalismo e funk, me fez ter outra idéia de ambos os estilos e da própria concepção de arte.
Não me aprofundei tão assim no assunto, eu só desci até o chão mesmo,mas pelo pouco que pude conhecer, prefiro perguntar isso ao Jorge Coli.
Jorge Coli, funk é arte?
Afinal, seja claro, o que é arte?

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

post 1: boa Simoneeeeeeeeeeeeeeeee!!!!
arrebentou no comentário!!!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

post 2: o funk nasceu como expressão de um grupo social em forma de música...
eu nunca fui a um baile funk, mas... confesso! tbm já desci até o chão ao som da batida...
e alguém consegue ficar parado quando escuta aquele batidão???
q atirem o primeiro post!!!
E, sem dúvida, 'Quem disse que tropicalismo é arte' deveria ser o funk mais executado em todas as rádios e bailes funks do país!!!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

aguardando a resposta do sr. Coli***

Anônimo disse...

muito demais!!!!a venenosa arrebentou no baile funk!!!!