domingo, 24 de fevereiro de 2008

De amor e de letras. Por BruneLLa Wyvern.

A bolsa

Liah passeava por uma rua qualquer do centro da cidade onde morava e olhava vitrines para se distrair. Passava em frente a uma lojinha pequena, ninguém dentro, quase despercebida, quando viu a bolsa num cantinho da vitrine. Não era qualquer bolsa, era a sua bolsa. Bolsa de mulher é especial, única. São muitas, é verdade, mas cada uma única. Tem caber tudo que elas pensam que precisam carregar. Se bobear, tem caber até os sonhos delas.

Sabe aquela sensação que se tem de que alguma coisa foi feita para você? Foi isso que ela sentiu. Liah entrou e logo foi atendida por uma senhora simpática. A bolsa era até mais barata do que ela imaginava. Tinha o dinheiro na carteira. A bolsa era dela.

Saiu dali e foi direto para casa. Chegou e ficou admirando a bolsa, esperando que o outro dia chegasse logo para que ela pudesse usar o novo acessório. E assim fez. Vestiu a calça que mais gostava e uma blusa neutra e deixou o colorido para a bolsa. Ela saiu de casa e no ponto de ônibus, sentiu que as pessoas a olhavam. Para Liah não, para a bolsa.

No caminho para o trabalho foi a mesma coisa. A bolsa sempre chamando a atenção por onde passava. Liah podia imaginar o sorriso orgulhoso daquele pedaço de pano costurado e modelado em formato de bolsa. O que ela mais gostava eram os dois lacinhos de cetim que ela tinha nas laterais e o colorido, claro. Todo mundo olhava a bolsa de Liah, mas ninguém falava nada.

Talvez as pessoas não quisessem admitir que estivessem olhando. Talvez não quisessem falar mesmo. Quando chegou ao seu local de trabalho, a chefe dela ficou visivelmente encantada com a bolsa. Os olhos dela perguntavam: “onde será ela comprou?”. A boca, porém, não pronunciou nenhuma palavra além do “bom dia” habitual.

Liah trabalhou normalmente durante o dia, mas deixou a bolsa ficar se exibindo em cima da mesa. No elevador, em seu horário de saída, as pessoas estavam falando de bolsas, não a bolsa de Liah, de bolsas em geral, dessas grandes que estão na moda. Algumas mulheres falavam alguma coisa quando Liah e a bolsa entraram cortando os dizeres ao meio. E todos permaneceram em silêncio até o térreo. Em silêncio e olhando para a bolsa colorida que quase tinha vida própria junto a sua dona.

As pessoas esperaram que ela saísse do elevador para depois saírem. E lá se foram Liah e sua bolsa orgulhosa desfilar pelas ruas até o ponto de ônibus. Ela cantarolava uma música que combinava com o colorido da bolsa. Ambas sorriam. As pessoas passavam por elas e ficavam curiosas para saber de onde vinham os sorrisos. Não descobriam.

Liah e a bolsa chegaram ao ponto de ônibus e receberam olhares atentos vindos de todos os que estavam ali. Alguém podia até comentar alguma coisa, mas teria o cuidado para que as duas não ouvissem.

Naquele dia o ônibus estava demorando a passar. Talvez quisesse dar mais tempo para que as pessoas pudessem admirar a bolsa. Talvez estivesse preso no trânsito mesmo. Liah tentava se distrair olhando para o céu. As pessoas não entendiam o que ela tanto via no céu. Ela estava olhando para a lua. Era a primeira noite de lua cheia. “Perfeita!”.

Distraída enquanto a bolsa continuava a se exibir, Liah não viu quando uma moça se aproximou.

- Ei.

Ela se assustou.

- Desculpa, não queria assustar você.

- Tudo bem, eu estava distraída.

- Tem muito tempo que você está aqui?

- Mais ou menos.

- Você viu se o Dom Bosco – Ipiranga já passou? - perguntou a moça muito baixinho.

Liah não entendeu e pediu que a moça repetisse a pergunta duas vezes até conseguir ouvir.

- Ah! Esse ainda não passou. Pelo menos não enquanto eu estava aqui.

- Hum... Obrigada.

- De nada.

Não demorou nem mais meio minuto e o ônibus de Liah finalmente chegou. Como a moça estava ao seu lado, ela resolveu se despedir.

- Tchau.

- Tchau... E que bolsa linda a sua.

Foi a vez de Liah agradecer e sorrir.

- Obrigada.

E finalmente foram para casa Liah e a bolsa orgulhosa.

4 comentários:

Simone Azevedo disse...

Eu não sou muito adépta dessa palavra, mas foi a primeira que saiu da minha boca quando acabei de ler esse texto:

CARAAAAAAAALHO!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

eu descobri q eu gosto de escrever crônicas...

Anônimo disse...

Quem sabe, sabe! Até uma bolsa vira uma história fascinante. É impressionante! Bravo Bru, para você e a bolsa, que realmente é linda!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Obrigadaaaaaaaaa!