Só mais uma do Pan
Do que são feitos os atletas? Essa matéria forte, monumental, invejável. Pessoas capazes de nos fazer sentir os mais vitoriosos. Ah, se a nossa vida também tivesse pódio, para ver se é ele que faz os atletas serem tão destemidos, sempre almejando apenas o melhor. Suplantar a dor, a pressão, e todos os obstáculos para cruzar a linha em primeiro, para saltar mais longe, para ver um nome ao lado do número um no telão: Brasil.
Que capacidade incrivelmente sedutora tem esses esportistas, de nos fazer sentir também como os melhores das Américas? São apenas o brilho da luz azul que sai da tevê e a voz emocionada do senhor locutor, retocadas por imagens daqueles “exemplos de dedicação e superação” que têm nas certidões de nascimento a palavra que honram – a nós e a eles – como brasileiros?
Também não acho que eles são seres altamente altruístas que têm como único combustível da vitória 170 milhões de corações tupiniquins mui gratos pelo “honrar a camisa”.
Do que são feitos os políticos? Essa raça podre, que parece sempre externar os mais vis adjetivos que podem receber um homem. Essa gente que parece nefastamente se apropriar do que é do povo para fazer dele pobre ludibriado. Quantos – poucos – deles talvez mereçam não serem chamados, nua e cruamente, ladrões? Subjulgar o dever cívico e nos fazer ouvir que os mais corruptos são os deste país aqui: Brasil.
Criaturas que fizeram do termo “homem do povo”, algo que mais se assemelha a “homem enganador do bobo” do que qualquer outra coisa. Todos protegidos pelo manto longo, acolhedor e mal-cheiroso da impunidade. Há quinhentos anos, a terra dos papagaios sobrevive ao governo dos piores exemplares existentes para tomar conta das nossas contas.
Nesses últimos 17 dias, dividi minhas férias entre as competições no Rio de Janeiro e a letargia de Brasília. Na última semana, uma comparação me fez pensar muito e não ver mais nenhuma graça no Pan, senti vergonha.
Por que os políticos não são feitos da mesma matéria que os atletas?
Por que os políticos também não deixam o orgulho, a ganância, todos nos mais profundos e reprimidos desejos para ver se dá para tirar as crianças da rua? Eu sei, meus caros leitores, que absolutamente tudo que eu disser aqui soará terrivelmente brega e presumível. Mas o pior, amigos, é que tudo não deixa de ser verdade.
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Domingo, nos instantes finais da maratona, Elias e seu filho correram desesperada e alegremente ao lado do maratonista Franck Caldeira para entregar-lhe uma bandeira do Brasil, e assim ele cruzasse a linha de chegada no mais alto estilo. Segunda-feira, no ES TV 1a Edição, Elias, capixaba, comentava a alegria de ter emprestado a bandeira ao grande vencedor da maratona, esperando que um dia pudesse recebê-la de volta. Puro engano...
O grande vencedor da maratona, Franck Caldeira, disse em entrevista ao Fantástico, no dia anterior, que já havia entregado, muito agradecido, a bandeira que, em suas mãos magrelas, no dia seguinte, estamparia a maior parte dos jornais do país.
E depois as pessoas reclamam dos políticos.
2 comentários:
Caramba Sylvia.
"Por que os políticos não são feitos da mesma matéria que os atletas?"
Infelizmente, Sylvia, eu não sei!
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