quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Quero Ser Miriam Leitão, por Sylvia Ruth

O carioca Frank Caldeira comemora muito o ouro ao cruzar a linha de chegada da maratona em primeiro
Semana que vem a coluna mais esperta de economia volta.

Só mais uma do Pan

Do que são feitos os atletas? Essa matéria forte, monumental, invejável. Pessoas capazes de nos fazer sentir os mais vitoriosos. Ah, se a nossa vida também tivesse pódio, para ver se é ele que faz os atletas serem tão destemidos, sempre almejando apenas o melhor. Suplantar a dor, a pressão, e todos os obstáculos para cruzar a linha em primeiro, para saltar mais longe, para ver um nome ao lado do número um no telão: Brasil.

Que capacidade incrivelmente sedutora tem esses esportistas, de nos fazer sentir também como os melhores das Américas? São apenas o brilho da luz azul que sai da tevê e a voz emocionada do senhor locutor, retocadas por imagens daqueles “exemplos de dedicação e superação” que têm nas certidões de nascimento a palavra que honram – a nós e a eles – como brasileiros?

Também não acho que eles são seres altamente altruístas que têm como único combustível da vitória 170 milhões de corações tupiniquins mui gratos pelo “honrar a camisa”.

Do que são feitos os políticos? Essa raça podre, que parece sempre externar os mais vis adjetivos que podem receber um homem. Essa gente que parece nefastamente se apropriar do que é do povo para fazer dele pobre ludibriado. Quantos – poucos – deles talvez mereçam não serem chamados, nua e cruamente, ladrões? Subjulgar o dever cívico e nos fazer ouvir que os mais corruptos são os deste país aqui: Brasil.

Criaturas que fizeram do termo “homem do povo”, algo que mais se assemelha a “homem enganador do bobo” do que qualquer outra coisa. Todos protegidos pelo manto longo, acolhedor e mal-cheiroso da impunidade. Há quinhentos anos, a terra dos papagaios sobrevive ao governo dos piores exemplares existentes para tomar conta das nossas contas.

Nesses últimos 17 dias, dividi minhas férias entre as competições no Rio de Janeiro e a letargia de Brasília. Na última semana, uma comparação me fez pensar muito e não ver mais nenhuma graça no Pan, senti vergonha.

Por que os políticos não são feitos da mesma matéria que os atletas?

Por que os políticos também não deixam o orgulho, a ganância, todos nos mais profundos e reprimidos desejos para ver se dá para tirar as crianças da rua? Eu sei, meus caros leitores, que absolutamente tudo que eu disser aqui soará terrivelmente brega e presumível. Mas o pior, amigos, é que tudo não deixa de ser verdade.

***

Domingo, nos instantes finais da maratona, Elias e seu filho correram desesperada e alegremente ao lado do maratonista Franck Caldeira para entregar-lhe uma bandeira do Brasil, e assim ele cruzasse a linha de chegada no mais alto estilo. Segunda-feira, no ES TV 1a Edição, Elias, capixaba, comentava a alegria de ter emprestado a bandeira ao grande vencedor da maratona, esperando que um dia pudesse recebê-la de volta. Puro engano...

O grande vencedor da maratona, Franck Caldeira, disse em entrevista ao Fantástico, no dia anterior, que já havia entregado, muito agradecido, a bandeira que, em suas mãos magrelas, no dia seguinte, estamparia a maior parte dos jornais do país.

E depois as pessoas reclamam dos políticos.

2 comentários:

Simone Azevedo disse...

Caramba Sylvia.

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

"Por que os políticos não são feitos da mesma matéria que os atletas?"

Infelizmente, Sylvia, eu não sei!