A justiça tarda, mas...
Dois meses depois das denúncias contra o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) estamparem capas de revistas e primeiras páginas de jornais, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu (finalmente!) abrir processo de investigação contra o senador. O pedido feito pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, será analisado pelo ministro Ricardo Lewandowski. Cabe ao ministro determinar ou não a realização de diligências pedidas pelo procurador. O sigilo bancário e fiscal do senador foi quebrado hoje.
A situação de Calheiros no Senado está crítica. Antes, era só PSOL no encalço do presidente da Casa. Agora, em reuniões distintas, as bancadas dos Democratas e do PSDB também estão no encalço do senador. Há quem garanta que, caso a relatoria indique a cassação do mandato do senador, Renan Calheiros já teria, dentro do DEM, mais votos que José Agripino (DEM-RN) na disputa pela presidência do Senado.
Essa movimentação toda ocorre pelas múltiplas funções exercidas por nosso personagem principal. Pulador de cerca, amigo de lobista, financiado por bicheiro, fornecedor de carnes para os churrascos no além e favorecedor uma cervejaria e, claro, senador nas horas vagas. Não contente com suas atribuições ou com o tratamento dado a ele pela mídia, Calheiros decidiu ter a sua própria corporação midiática (Ele levou ao pé da letra a história do “seja a mídia”!).
Segundo denúncias alardeadas por aí, Renan Calheiros é o verdadeiro dono de duas emissoras de rádio em Alagoas, depois de já ter sido sócio de um jornal diário (desse jeito fica mais fácil fazer campanha a favor, não?). Ser o dono oculto de uma empresa não é o problema mor do caso. Consta nos autos da reportagem que a Justiça Eleitoral ou a Receita Federal desconhecem essas transações. E, pelo jeito, há algo de podre no reino de Alagoas. A parte do senador na transação, paga em espécie, seria de R$ 1,3 milhão. Acontece que esse valor é maior que o patrimônio de Calheiros declarado à época da compra.
A reportagem diz que o grupo de comunicação foi comprado de Nazário Pimentel, em parceria com o usineiro João Lyra, sogro de Pedro Collor, irmão falecido do ex-presidente e atual senador, Fernando Collor de Mello.
Detalhe fofo do negócio: o nome da empresa JR Radiodifusão seria uma menção às iniciais dos sócios ocultos – J de João e R de Renan (ó, que meigo!). Oficialmente, os donos são Carlos Ricardo Santa Rita (coincidentemente funcionário do gabinete do senador em Brasília e ex-tesoureiro de campanha) e José Carlos Paes, corretor de imóveis e amigo de Lyra.
Adivinhem o que o senador disse diante das denúncias? (Que difícil essa).
“Sou inocente”. É, estranho seria se ele dissesse o contrário!
Mas, de tudo que ele falou, sou obrigada a concordar com uma parte. Vejam se, pela descrição feita por Calheiros, vocês descobrem qual a revista que trouxe as denúncias à tona. Na voz do senador: “Uma revista semanal, sem limites éticos e qualquer critério jornalístico, travestida de tribunal político”. Quem já souber – deixa eu pensar, deixa eu pensar – que atire o primeiro post!
Voltemos a discutir: de quem é o mandato?
O TSE já bateu o martelo: o mandato é dos partidos. E quer ver cumprida sua determinação. Na Câmara, o presidente Chinaglia (PT-SP) se esquiva da responsabilidade dizendo que não ter força política para fazer valer a determinação do TSE. Será que é só isso? Bem, se a determinação valer, o fato é que a base governista perde 39 deputados.
Trazendo a pauta para a Capitania de Vasco Fernandes Coutinho, se o TSE fizer cumprir a determinação, 23 prefeitos estão ameaçados de perder os cargos. E já tem gente querendo voltar para o partido do qual saiu.
A medida parece um tanto autoritária, mas é uma tentativa de manter um mínimo de fidelidade partidária, há muito esquecida pelos políticos deste país. Hoje vale a fidelidade à conveniência. Ou ao melhor “incentivo”.
Enquanto o Congresso Nacional se atola em mais escândalos e CPIs sem futuro, o TSE tenta fazer alguma coisa em relação a já sepultada reforma política. Parece que nossos queridos parlamentares ainda não se deram conta de que o sistema político brasileiro está falido!
Metereologia informa: risco de temporais...
E uma nova batalha se aproxima dos céus da Câmara: a votação da CPMF. Vislumbro um horizonte de nuvens negras e carregadas...
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