segunda-feira, 28 de maio de 2007
O que irrita Jaqueline.Por Jaqueline Mainardi
''....Eu voltei agora pra ficar por que aqui, aqui é o meu lugar...''
O termo exclusão é o que mais fielmente caracteriza a situação do negro no Brasil. Após mais de um século de libertação os negros continuam lutando pela liberdade e cidadania. Verifica-se em escala mundial a concentração de renda e poder nas mãos de uma elite majoritariamente branca.
Segundo dados do IBGE, no Brasil verifica-se que as taxas de analfabetismo tiveram uma redução em todos os grupos de cor, entretanto entre negros e pardos esse índice é 3 vezes maior se comparado à população branca
A adoção de cotas para alunos negros nas universidades públicas pode compor um conjunto de medidas práticas, efetivas e imediatas que apontem para o fim das desigualdades raciais na sociedade brasileira.
Uma das maiores universidades públicas do Brasil, a Uerj, destinou 40% de suas vagas para alunos negros e pardos, o que gerou grande polêmica e reacendeu as discussões sobre o tema, alguns com argumentos a favor e outros contra.
Os argumentos contrários à política de cotas se pautam em elementos que não tem base de sustentação. O primeiro se baseia no fato que de no lugar da adoção do sistema de cotas dever-se-ia melhorar a qualidade do ensino publico e fundamental ocorrendo uma equiparação do saber. Outro argumento comumente utilizado relaciona a desigualdade de ingresso na universidade a questões de caráter econômico, ou seja, a entrada do aluno estaria pautada no poder aquisitivo relacionado ao dinheiro gasto em escolas particulares as quais o ensino é superior ao das escolas públicas.
De fato, é imprescindível a melhoria no ensino público do Brasil, porém esse é um discurso antigo, aguarda-se a melhoria, ao passo que a exclusão permanece e o negro continua à margem da sociedade. A exclusão do negro das universidades é uma realidade inquestionável e a população não pode ficar esperando passivamente algo acontecer.
Em relação ao argumento que trata da desigualdade social podemos constatar que o pobre não consegue, ou melhor dizendo, possui menores chances de entrar nas universidades públicas, entretanto mesmo entre os pobres, o número de negros está 47% acima dos brancos, existem mais pessoas miseráveis negras que brancas, e entre estas os negros são os de menor salário e poder aquisitivo, a remuneração para um mesmo cargo é distinto entre eles.A maior parte dos alunos oriundos de escolas públicas que conseguem ingressar nas universidades públicas são brancos, mesmo entre aqueles que conseguem vencer a diferença, os negros são minoria.
A questão do negro na universidade pressupõe a simples compreensão da desigualdade social fixada entre pobres e ricos, a partir dessas discussões nascerão soluções para questões que hoje se mostram quase sem solução.
domingo, 27 de maio de 2007
Ave Franklin! Por BruneLLa Wyvern.
A era pós-todasascoisas...
A expressão modernidade líquida é uma metáfora criada pelo sociólogo francês Zygmunt Bauman para definir o período histórico que vivemos. Alguns preferem pós-modernidade, outros, pós-industrial ou ainda pós-cultural. Não existe consenso entre os teóricos. A expressão cunhada por Bauman é utilizada ou serve de pano de fundo ou permeia discussões, fóruns, seminários, debates acerca de diversos campos do saber. Esse conceito de fluidez da modernidade, porém, deve ser relativizado.
Uma pausa: não estou dizendo que Bauman não relativiza seu conceito, porque ele o faz. O que há de errado então? O problema está na apropriação indiscriminada do termo modernidade líquida por grande parte de debatedores, pensadores, teóricos que se esquecem dos mas, poréns e todavias. Na visão deles, parafraseando Hemingway, a modernidade líquida é uma festa.
Para aqueles que têm cartões de crédito, contas bancárias com alguns zeros à direita na cifra, a realidade pós-todasascoisas e vivida em sua plenitude. Independente da classe social, sente-se a necessidade de consumir como forma de afirmação social e garantia de auto-estima. Os países são vistos apenas como mercados consumidores e o poder de compra garante a posição que se ocupa na sociedade. (Alguém ainda não acredita que vivamos na sociedade do hiperconsumo?)
Mas e os meros mortais? Prefiro dizer que vivemos (eu me incluo aí) em uma modernidade plasmática. Não abandonamos totalmente aquele estágio inicial da modernidade (sólido), nem alcançamos plenamente o estágio pós (líquido).
Isso sem contar aqueles que ainda nem saíram da Idade Média, vivendo sem qualquer acesso a tecnologias já superadas em plenos séculos XIX e XX. É fato: em nações da África e da Ásia as carroças de boi são principal meio de transporte e de carga. Enquanto no Japão a expectativa de vida já ultrapassa os 80 anos de vida, em Serra Leoa ela é de 37 anos, segundo dados fornecidos pela Organização das nações Unidas (ONU).
A Comunicação Social, enquanto campo do saber, não poderia ficar de fora da discussão. Acompanhando as palestras desenvolvidas no Seminário Internacional A constituição do Comum, realizado em Vitória, de 21 a 25 de maio, o clima de oba-oba ao redor da modernidade líquida (conceito utilizado superficialmente) era claro. Os maiores entusiastas são os defensores da Internet, ou Web 2.0 – como queiram, a garota propaganda do era pós, como promotora de uma revolução cultural.
A interatividade, a constituição de um espaço aberto para discussões, a polissemia de discursos encontrada na web são realmente incríveis. Mídia independente, universo dos blogs, wiks, Orkut, jornalismo participativo, mídias colaborativas são uma realidade. Mas fazem parte apenas do universo daqueles que TÊM acesso a ele.
Um exemplo: no Brasil, temos 50 milhões de internautas. Um número bastante significativo para o total de 180 milhões de habitantes. Há de se pensar, portanto, que com tal número de usuários a tão proclamada revolução cultural pela web, especialmente pelos blogs, é uma curta questão de tempo. (Estamos bem distante da maioria, mas os 130 milhões de excluídos são mero detalhe).
É preciso muito cuidado com os discursos entusiásticos. Dos 50 milhões de internautas, apenas 5% acessam ou se interessam por conteúdos culturais na web. Reduzimos nossos revolucionários para 2,5 em 180 milhões. Uma queda considerável.
Se quisermos um exemplo global, podemos usar um dado da ONU: a ilha de Manhattan tem mais computadores que todo o continente africano (Se alguém resolver mexer os dedos no teclado para dizer que é porque a ilha de Manhattan tem mais habitantes que a África é melhor não se manifestar!).
Que revolução é essa que exclui a maioria?
Não é possível negar que transformações importantes estão acontecendo, vindas principalmente do domínio virtual, considerado mais livre, mesmo libertário. Mas a festa de luzes e neon em torno de mudanças que se delimitam aos incluídos digitalmente está obscurecendo o lado social das discussões. As desigualdades sociais estão AUMENTANDO, dois terços da população mundial continuam sofrendo endêmica ou epidemicamente do flagelo da fome. Milhões de pessoas necessitam do coquetel que atua no tratamento da AIDS e uma parcela mínima tem acesso a ele, pois esses desvalidos não interessam ao poderio neo-imperialistas.
É preciso um pouco mais do que um software para pensar mudanças estruturais nessa sociedade capitalista (hiperconsumista e excludente – desculpem a redundância, mas é preciso enfatizar) que aí está.
Vivemos a mais recente fase do processo de globalização iniciada em 1989 com a queda do muro de Berlim, símbolo da vitória do capitalismo sobre o socialismo e fim da bipolaridade global. Assistimos a um processo de integração econômica sob a égide do neoliberalismo no qual predominam os interesses financeiros, o interesse dos agentes financeiros, a desregulamentação dos mercados, as privatizações de empresas estatais e, infelizmente, o descaso ao bem-estar social. O mercado está acima da autonomia dos países e influencia na governabilidade de muitas nações, exercendo também uma dominação cultural e de informações. Independente da classe social, sente-se a necessidade de consumir como forma de afirmação social e garantia de auto-estima, pois os países são apenas mercados consumidores e o poder de compra garante a posição que se ocupa na sociedade.
A era pós-todasascoisas não é uma festa!
sábado, 26 de maio de 2007
A Venenosa por Simone Azevedo
Os problemas de comunicação entre marcianos e venusianas persistem. E sem querer ser pessimista, acho que uma melhora ainda está longe de atingir um patamar satisfatório. E nessa eterna luta (talvez eu esteja fazendo um trabalho de Sísifo) persisto na tentativa de amenizar os grandes transtornos decorrentes das diferenças lingüísticas e comportamentais existentes entre homens e mulheres.
Homens são de Marte e mulheres são de Vênus_ parte 2, traz mais algumas dicas aos marcianos de como se trata um delicado, sensível e maravilhoso ser venusiano.
1. ELA ADORA CHOCOLATE, ESPECIALMENTE NA TPM
O chocolate estimula a produção de serotonina, substância cerebral relacionada ao bem-estar. Além disso, o doce é rico em magnésio. No período pré-menstrual, o organismo feminino registra uma queda na quantidade do mineral – o que leva a quadros de irritação e depressão. Fácil de entender, portanto, por que na TPM ela se enche de chocolate.
A capacidade de se localizar é um dos grandes atributos masculinos, assim como todas as outras habilidades espaciais. Ela está localizada no hemisfério direito do cérebro e fica mais acentuada quando há grande quantidade de testosterona, hormônio masculino por excelência.
As duas metades cerebrais são unidas por uma estrutura chamada corpo caloso. Nas mulheres, essa ponte é maior. Ou seja, elas conseguem integrar melhor informações vindas das duas partes do cérebro.
Pois é... A culpa é, de novo, do tal corpo caloso mais grosso. Ao processar várias informações ao mesmo tempo, o cérebro feminino consegue decifrar sinais visuais e verbais com muita eficiência. Se você não quiser falar, seja honesto. Se ela desfiar o rosário de "O que é que você tem? O que aconteceu? Fala, fala, fala..." e você responder com uma sucessão de "nada", é muito provável que, em pouquíssimo tempo, vocês estejam no centro de uma daquelas brigas. Afinal, ela não sossegará – "Ele acha que sou boba? É lógico que ele está me escondendo algo...". E você ficará cada vez mais irritado – “Se eu digo ‘NADA’ é porque não há ‘NADA’”.
As habilidades sensoriais das mulheres são muito mais aguçadas. Cerca de 90% do cérebro feminino continua ativo mesmo quando elas dormem. Entre os homens, esse índice é de 70%. O motivo: na história da evolução da espécie, os cuidados com a prole cabiam ao sexo feminino. Para preservarem seus descendentes de ameaças naturais e do ataque de animais, elas tinham de estar atentas a várias coisas ao mesmo tempo. Por isso, elas são melhores em captar todos os detalhes, por menores que sejam.
As mulheres têm duas regiões do cérebro específicas para a fala, uma em cada hemisfério. Elas usam de 6 000 a 8 000 palavras diariamente, enquanto os homens utilizam, no mesmo período, de 2 000 a 4 000 palavras.
O organismo feminino é muito mais sensível aos efeitos do álcool do que o masculino. Os homens metabolizam um copo de vinho mais rápida e eficientemente.
Habilidades espaciais estão localizadas na parte frontal do hemisfério direito do cérebro, que é bem mais desenvolvida nos homens.
O cromossomo X determina a quantidade e a diversidade das células fotorreceptoras, as responsáveis pelo processamento das cores. Como as mulheres carregam dois cromossomos X e os homens apenas um, é natural que elas tenham mais facilidade para diferenciar cores.
11 coisas que ela gostaria que você soubesse
1. Ela não quer que você resolva os problemas para ela... Apenas que a escute reclamar
2. Ela adoraria que você soubesse quando ela está na TPM sem que precisasse de anúncio e que, nesse período, você cedesse às suas manhas
3. Quando ela pergunta se está bonita, ela não quer a sua opinião. Ela quer o seu entusiasmo
4. Se uma mulher maravilhosa cruza o caminho de vocês, pode apostar que ela reparou na beleza da outra muito antes do que você
5. Se ela comenta com você que acha uma mulher bonita, isso não o autoriza a tecer mil e um elogios à outra. Contenha-se. Na frente dela, a outra é, no máximo, "bonitinha"
6. Ela adoraria receber uma carta de amor escrita à mão
7. Ela detesta dividir a conta do restaurante
8. Quando você pergunta o que há de errado e ela responde "nada", no fundo, ela quer que você insista na pergunta
9. Ela briga para que você não deixe roupa suja espalhada pela casa, mas, quando você passa muito tempo fora, ela sente uma falta danada da sua bagunça
10. Ela adora acordar com você olhando para ela
11. Ela não liga se você às vezes sai sozinho com os seus amigos desde que você volte cedo para casa e deixe o celular ligado o tempo todo
Fonte: Revista Veja, Edição Especial Homens, Agosto de 2004.
domingo, 20 de maio de 2007
Ave Franklin! Por BruneLLa Wyvern.
Com saudades de falar sobre geopolítica... E esse é um assunto que o Homer não gosta muito... Mas isso não importa! Vamos ao texto!
Desenvolvimento humano: a alternativa para um mundo melhor.
Neste início do século XXI, vivemos em uma nova ordem geopolítica, considerada multipolar, na qual se destacam uma nova fase no processo de globalização e a revolução tecnocientífica. Esta multipolaridade não significa, porém, que os países estejam todos num mesmo patamar. Aliás, após o fim da bipolaridade global, as disparidades que sempre existiram entre países díspares se acentuaram.
Isso ocorreu, primeiramente, com a tensão produzida pela Guerra Fria, pois as atenções se voltavam para a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial entre as duas potências da época. Tal fato escondia os problemas das desigualdades internacionais. A oposição Leste-Oeste obscurecia a oposição Norte-Sul, haja vista os países periféricos serem focados apenas como área de influência a ser dominada. Após a crise do então Segundo Mundo e o término da Guerra Fria, os problemas sócio-político-econômicos dos estados periféricos ficaram notórios e se tornaram assuntos recorrentes nas discussões internacionais, embora pouco tenha sido feito para superá-los.
Além disso, a atual fase da globalização e a nova revolução tecnológica (concentrada nos países membros do G-7) aumentam as diferenças entre as nações ricas e pobres, salvo algumas exceções. Se por um lado alguns países vivem na realidade deste século, com tecnologia avançada e elevados padrões de vida e de consumo, por outro, muitos países permanecem numa realidade similar à do século XIX, com tecnologia superada, como as carroças de boi, principal meio de transporte e de carga em nações da África e da Ásia. Somam-se a isso a pobreza absoluta de amplas camadas da população e os sérios problemas estruturais nos serviços básicos. É triste verificar que, enquanto em algumas localidades do globo a expectativa de vida já ultrapassa os 80 anos, em outras ela ainda está na casa dos 37.
Há de se observar ainda o grupo dos países intermediários com alguns setores desenvolvidos e outros bastante atrasados. Nessas economias predominam as empresas privadas e a sociedade urbana se divide basicamente em duas classes: a burguesia, composta pelos donos dos meios de produção, vivendo dos lucros de suas propriedades, e o proletariado, os que vivem de seu trabalho, pago sob a forma de salários achatados e não-condizentes às necessidades dos cidadãos. No meio rural, mudam-se as designações das classes, mas a exploração é semelhante.
Vale afirmar que os Estados pertencentes à periferia se caracterizam por intensa dependência econômico-tecnológica com relações comerciais desfavoráveis; vultosas dívidas externas; expressivo número de transnacionais em seus territórios, provocando forte descapitalização, pois boa parcela dos lucros é remetida às matrizes estrangeiras; raras criações em tecnologia e imanente reprodução de técnicas e padrões criados no exterior. Essa dependência é agravada pelo fato de os investimentos em educação e pesquisa serem precários nos países pobres, determinando uma mão-de-obra desqualificada e a carência de novas idéias e técnicas apropriadas a suas realidades.
Há de se ressaltar, ainda, as profundas desigualdades sociais. A classe pobre é “sub-todasascoisas” da elite. Nos países subdesenvolvidos, os ricos são mais ricos e os pobres são muito mais pobres que nos países desenvolvidos. No Japão ou na Holanda, por exemplo, os 10% mais ricos da população possuem cerca de 22% da renda nacional, na Turquia os 10% mais ricos possuem 42% e, no Brasil, mais de 50% da renda. E, inversamente, enquanto os 60% mais pobres do Japão ou da Holanda detêm cerca de 35% da renda nacional, na Turquia eles possuem cerca de 18% da renda e no Brasil apenas 16%, aproximadamente.
Analisando a relação Centro-Periferia, vemos esses dois grupos formando um único sistema internacional: o capitalista. E foi o modo de produção capitalista que, ao longo da história, engendrou as grandes desigualdades sócio-técnico-econômicas existentes hoje. A divisão internacional do trabalho, que estabelece as relações entre nações, sempre foi marcada pelas mudanças ocorridas no mecanismo do sistema capitalista. A fronteira que opõe Estados ricos e pobres, portanto, é produto das políticas coloniais mercantilista e imperialista, e se tem aprofundado atualmente. Tal fronteira também é responsável pelas migrações internacionais, constituídas de grandes contingentes humanos das nações subdesenvolvidas, ingressando, legal ou clandestinamente, nas nações desenvolvidas em busca de melhores oportunidades de vida. Assim sendo, se as relações internacionais permanecerem essas, com nações monopolizando o conhecimento e os benefícios do processo de mundialização, a tendência é que o abismo existente entre os países se aprofunde cada vez mais.
Lutar contra a ordem econômica capitalista, consumista e excludente que aí está é uma tarefa árdua. Para isso, algumas providências são necessárias. Uma delas é traçar uma estratégia global visando ao desenvolvimento. Isto requer discutir novos gerenciamentos da educação, a saúde, economia, segurança pública... e todas as questões relacionadas à esfera social. Afinal, é preciso equilibrar e integrar crescimento econômico e justiça social. Esse é o grande desafio de hoje.
Desafio:
Alguém se arrisca a uma proposta de solução???
Se você achar que sabe como resolver este pequeno impasse, dê uma resposta para nós!!!
Aguardando...
Uma nota:
Romário fez o seu bendito - para não dizer outra coisa - milésimo gol!
Depois de todo estardalhaço que ele já teve, uma nota está bom demais para dar essa informação.
Contra quem foi o gol? Sport Recife, pela segunda rodada do Brasileirão.
Qual o placar do jogo? 3 X 1 para o Vasco - sim, milagres acontecem!
Onde? São Januário, Rio de Janeiro.
Quando? Domingo, 20 de maio de 2007, aos dois minutos do segundo tempo.
Como? De pênalti.
Fim da novela???????
Não me surpreenderia se isso virasse novela da Globo...
sábado, 19 de maio de 2007
Dia do leitor por Anna Karla Lerbach
Desde quando estudante até hoje, o professor Cléber Carminati faz manifestações dentro da Ufes por melhoras no curso de Comunicação.
Desde sua criação em 1954 pelo então governador do Estado, Jonas dos Santos Neves, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) possui certos problemas, que vão de falta de investimentos para aparelhagem à erros administrativos. Logo, muitas pessoas se destacam lutando por melhorias nessa universidade e uma delas é o atual professor do curso de Comunicação Social, Cléber José Carminati. Graduado pela Ufes nas duas habilitações disponíveis em Comunicação, Jornalismo e Publicidade, e mestrado pela Puc de São Paulo em Comunicação e Semiótica, esse professor de 45 anos costuma a lutar de uma forma não-convencional por melhorias.
Uma delas aconteceu dia 27 de abril. O professor levou uma caixa de som para o meio do Cemuni V (onde os alunos do curso costumam ter aula e onde se localiza o departamento deste) e começou uma mini-manifestação com os seus alunos de Estética e Linguagem Audiovisual em prol de uma sala devidamente equipada para que possa dar aula demonstrando as experiências estéticas subseqüentes e então possibilitar um amadurecimento visual.
Esse tipo de movimento é normal para Carminati que, na década de 80, quando era estudante do curso de Comunicação nessa mesma universidade, fazia parte de um grupo denominado Turma do Balão Mágico conhecido por diversas manifestações dentro da Universidade, utilizando-se tanto de greves como de grafites.
Na entrevista abaixo, Cléber conta mais sobre suas atividades políticas e a história fascinante do surgimento da Turma do Balão Mágico.
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Quando você começou a atividade política?
Foi praticamente quando eu entrei na Ufes. Eu entrei em 1980, para fazer Engenharia Elétrica e já estava acontecendo uma greve, naquela época, havia muitas greves, mesmo porque o movimento estudantil era um movimento político que lutava não só por condições de ensino, mas também por questões de liberdade e contra a ditadura. Enfim, já tinha uma greve na época e eu comecei a participar do diretório acadêmico da engenharia. Em 1981, eu fui membro da diretoria da engenharia e daí pra frente só fui mudando as formas de atuação política.
Durante a década de 80, que eu estava como aluno; já que eu fiz as duas habilitações da comunicação fiquei sete anos nesse curso e mais dois na engenharia; participei de muitas atividades culturais, como teatro, grupo de vídeo, grupo de rádio livre, participei de muitas intervenções dentro da universidade. Era bem interessante, encenávamos o enterro do reitor, levávamos as máquinas de escrever pra reitoria, fazíamos greve. Então esses meus ataques de hoje em dia possuem uma história.
Então você só estendeu a atividade política quando virou professor?
Em parte. Eu entrei como professor na Ufes em 1999 e eu me sinto eternamente no mesmo problema, sai de estudante para professor, mas ainda as condições estão deficientes. Melhoramos muito, mas ainda estamos longe de conseguir um espaço adequado pro curso.
Do começo até então eu só venho mudando as formas de atuação política, mas continuo até hoje. Digo política no sentido mais amplo possível porque partidariamente, ideologicamente, eu não tenho uma definição muito estreita. Hoje em dia isso é muito difícil.
Você mudou de curso por causa de sua atividade política?
Em parte foi, porque comecei a ter contato com filosofia, mais para parte marxista e de teorias econômicas e então eu percebi que a engenharia não me trazia muita base nessas indagações filosóficas. E o curso de comunicação, na época, era um dos mais atuantes politicamente, que tinha uma formação mais eclética e acabei me interessando bastante pela área.
Você é famoso por ter feito parte de um grupo que fez história na Ufes, o Balão Mágico. Como se deu a formação desse grupo?
O balão surgiu como um grupo dentro de uma disciplina, teoria da comunicação, que buscava questionar os métodos de ensino de um determinado professor, o Domingo de Freitas. Ele dava Teoria da Comunicação I, II e III e possuía um método muito certinho e nós não podíamos questionar nada da metodologia dele, só podíamos aceitar. Ele era ainda bastante autoritário, falava sempre que éramos uma geração alienada, formada pela televisão que a geração dele lutou por muitas coisas e a nossa não era nada.
Na matéria Teoria da Comunicação II, tinha-se que propor um projeto de pesquisa e nós propomos uma pesquisa voltada para um método chamado Pesquisação que consiste em um método em que você é ator da transformação, o ator da pesquisa em si, não aquele sujeito que observa a situação. Nós queríamos atuar dentro da estruturação do curso de comunicação, questionando certas práticas pedagógicas, certos conteúdos. Ele odiou o projeto, nos reprovou e ainda falou que era completamente alienado.
Ele tinha o modelo traçado de pesquisa que era pesquisar os meios de comunicação quantitativos, quantos jornais tinham no estado e coisas do tipo. Cabia aos alunos trabalhar para a pesquisa, depois, ele fazia um material e o publicava, os alunos davam o suporte teórico, sem bolsa, sem dinheiro. Tínhamos que fazer o que ele mandava e pronto, se questionássemos ficaríamos reprovados. Logo, ficamos reprovados.
Ele ainda colocou o nome do grupo de Turma do Balão mágico porque, naquela época, estava surgindo o programa da Simoni, do Mike, chamado Turma do Balão Mágico e ele sempre dizia que éramos alienados, geração TV, geração videoclipe, e começou a nos chamar assim. Gostamos do nome, bonito, criativo, tinha um caráter lúdico por ser um programa infantil e adotamos o estigma como grupo de intervenção, de atuação, e assim fomos nos fortalecendo.
Mas depois o Balão Mágico começou a se estender para outros problemas que não só os do curso de comunicação?
Sim, depois, no grupo entraram algumas pessoas de outros cursos que também faziam parte do movimento político, movimento acadêmico, movimento cultural.
Era uma época de abertura política havia uma grande discussão a cerca das formas de representação políticas, não só partidárias, mas também outras formas de se organizar e ainda a discussão das questões de gênero e das minorias porque a concepção política, durante os anos sessenta e setenta, era a de transformar o sistema para depois conseguir discutir questões sobre sexualidade, homossexualidade, a questão da mulher, dos negros, do índio. São questões que passaram primeiro por uma concepção de revolução totalizante pra depois se discutir essas particularidades.
Nesse momento, com a volta dos exilados, principalmente de figuras como o Gabeira, pessoas que voltam a questionar a sexualidade que começavam a trazer esse universo para desconstruir um pouco o mito do guerrilheiro e mostrando as instituições políticas como reprodutoras de certos modelos machistas e homofóbicos o que acabou me atraindo para outras atividades que não só a política mais tradicional, mas atividades voltadas para a cultura, para a arte, direcionadas para a política.
De que maneira vocês relacionaram a arte e a cultura com a política?
Usávamos muito spray, grafite e as paredes como forma de expressão e quando ficamos reprovados, grafitamos o IC II e fomos penalizados por isso, tivemos até que pagar a pintura ou nos processariam por danos ao bem público. Compramos tinta e pintamos nós mesmos as paredes grafitadas.
A partir daí, começamos a intensificar o uso dos grafites e das paredes como forma de expressão, como suporte das nossas inquietações e então a universidade inteira acabava sendo grafitada.
Como você encara as pessoas que viam o Balão Mágico como só mais um grupo de estudantes revoltados que não tinham mais o que fazer?
Essa concepção também é verdadeira (risos). De certa forma, acho que quando você trabalha com reflexão e questionamento o ócio é fundamental, é o ócio criativo. Não tem como você estar numa linha de produção, cheio preocupações e, ao mesmo tempo, pensar e discutir, acho isso um pouco difícil.
A universidade tem muito dessa concepção e a sempre defendemos muito esse espaço, como um espaço de reflexão, de novas propostas, de intervenção, reflexão e atuação nesse mundo. Se perdermos isso, estamos perdendo o que há de melhor, o que nos faz suportar essas condições precárias de trabalho. A liberdade de pensamento é garantida, deve ser garantida e isso requer um ócio, uma não produtividade no sentido estreito da palavra. Na verdade, estávamos produzindo, novas formas de estética, novas formas de arte, de cultura. A Universidade tem esse papel.
As pessoas tinham uma visão muito utilitária da universidade, era entrar, adquirir uma competência e ir pro mercado de trabalho, nós não colocávamos isso como uma prioridade, tanto que a gente fez muita coisa, trazíamos a dimensão da necessidade de uma rádio, de uma sala de vídeo, de novas câmeras, de melhores condições de pesquisa. A pesquisa não era algo, como hoje, totalmente divulgado, os alunos vêem, buscam, se interessam. Ninguém fazia pesquisa naquela época, nem os professores, eles faziam mestrado e doutorado, mas pesquisa mesmo, junto com os alunos, não existia. A não ser o professor de Teorias da Comunicação que obrigava os alunos a fazerem a pesquisa que ele gostaria de fazer e colocava tudo mundo pra trabalhar pra ele recolhendo dados. Isso é importante? É. Mas o jogo não era estabelecido como ato importante de convencimento, era algo instituído autoritariamente e isso é pedagogicamente muito ruim.
A Venenosa por Simone Azevedo
Sem licença para matar
A mídia já vestiu a carapuça de “quarto poder”. Cumprindo a tarefa a qual foi destinada, de “esclarecer os cidadãos”, executa uma “prestação de serviço”. O poder que emana da posição de “quarto poder” permite o uso de meios ilícitos na obtenção de informações? Em nome do supremo valor ético da transparência e do sagrado direito de informar a todo e qualquer custo, pode o jornalista fazer uso de câmeras escondidas, grampos telefônicos e de qualquer imagem ou declaração obtida sem o consentimento e/ou conhecimento da fonte?
Esclareçamos algumas premissas:
Primeiro, este ideal de transparência é enganador, uma vez que esconde coisas importantes como os interesses empresariais dos próprios jornais e das fontes que os alimenta, e o processo de seleção das informações que nos são oferecidas. “Assuntos de interesse público o público tem o direito de saber”. E cabe às empresas de comunicação mais do que ao público decidir o que é de interesse público?Elas têm mais “discernimento” para decidir sobre o que o público precisa saber, sobre o que o público quer saber? Não. Mas é isso que acontece. O caso Tim Lopes exemplifica claramente a ideologia por trás das escolhas das noticias de “interesse público”.
O repórter Tim Lopes iniciara a apuração de uma matéria na favela de Vila Cruzeiro, supostamente atendendo a pedidos de moradores que, indignados, teriam telefonado para a TV Globo denunciando a realização de bailes funk com shows de sexo ao vivo protagonizados por adolescentes e farto consumo de drogas, sob o patrocínio de traficantes locais. O repórter teria ido a favela três vezes. Ao retornar pela quarta vez com uma microcâmera escondida, desapareceu. A confirmação de sua tortura seguida de assassinato comandado pelo traficante Elias Maluco, saiu uma semana depois.
Adolescentes protagonizando shows de sexo e consumindo drogas é noticia de interesse público com toda certeza. Mas por que arriscar a vida de um jornalista para documentar o que todo mundo já sabia que estava acontecendo? A globo estaria tentando transformar a informação jornalística em reality show? Porque não fazer o mesmo esquema “repórter 007” em festinhas freqüentadas por políticos, empresários, artistas, socialites e em “reuniões de negócios” e “encontros políticos”? Porque o jornalismo segregacionista está pautado em marginalidade social. Prefere escancarar a criminalidade das classes populares e escamotear a das elites fomentando a cultura do medo e incentivando á formulação de políticas cada vez mais repressivas de segurança pública ao invés de promover a luta pela igualdade social como único meio de conter a violência e o crime. Assim, mantém-se o status-quo social e econômico.
Segundo, o objetivo maior desse tipo de reportagem feita com uso de câmeras escondidas e grampos telefônicos é promover o espetáculo. Dar a sensação de que penetramos em lugares proibidos, que descortinamos falcatruas, que revelamos crimes, que fizemos justiça antes mesmo da própria Justiça. Mas as evidências obtidas nesse tipo de gravação são falaciosas, uma vez que encobrem as interferências contidas na mediação, como por exemplo o comportamento do repórter que, na maioria dos casos, funciona como agente provocador do ato ilícito.
Terceiro, ser jornalista é a única proteção que um jornalista tem para entrar em zonas de conflito e sair vivo para contar a história. Ser confundido com um espião, ou se confundir com um, põe em xeque não só a sua segurança como também a própria liberdade de imprensa.
Quarto, a ética do profissional de imprensa exige que ele sempre se identifique como tal. Quem fala para uma reportagem tem o direito de saber que está falando para uma reportagem. Além do mais, é uma tremenda invasão de privacidade filmar ou gravar conversas de pessoas que não sabem que estão sendo observadas. Isso prova mais uma vez que esse pseudojornalismo investigativo está em busca da espetacularização.
Esclarecidas essas premissas, está aberto o debate.
segunda-feira, 14 de maio de 2007
Ave Franklin! Por BruneLLa Wyvern.
irmãos mais novos...
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Fiquem com o texto e Homer que me desculpe...
Reforma Política: fidelidade partidária
E um dos aspectos da maior importância dentro dessa reforma é a questão da fidelidade partidária, que vejo como indispensável ao fortalecimento das instituições políticas.
A valorização do candidato em detrimento do partido tem propiciado uma situação que facilita a migração partidária, em face da ausência de compromisso com os programas partidários.
Sobre esse tema, há várias propostas em tramitação e das mais diversas: desde proposições que proíbem a mudança de partido em um determinado período, até outras que determinam a perda do mandato para todos os cargos e em todos os níveis.
Dentro desse universo da fidelidade partidária, evidencia-se o fato de que o mandato pertence ao partido, sendo o eleito um representante desta agremiação. E que o candidato, durante a campanha eleitoral vai às praças públicas carregando as cores e as bandeiras do partido ao qual pertence. Estamos nos referindo aqui a bandeiras tanto no sentido literal quanto, e principalmente, no sentido figurado da defesa da plataforma partidária.
Um levantamento estatístico feito no Congresso remete-nos aos seguintes dados com relação a mudanças de partido: na Câmara dos Deputados, na legislatura de 1991 a 1995, houve 268 mudanças. No senado, na 49ª legislatura foram 29 mudanças.
Um ponto de discussão fundamental que se coloca então é a consolidação das instituições políticas. Entendo que os partidos devem ter os seus líderes, mas há que se considerar que as lideranças só se formarão e serão representativas na medida em que haja identidade entre os ideários programáticos do partido e seus quadros. E que havendo essa comunhão de idéias, a mudança do eixo das grandes discussões nacionais entre Executivo e Legislativo torna-se possível, passando a ser tratada diretamente com os partidos e não isoladamente com figuras proeminentes.
Essa facilidade com que o parlamentar muda de partido, sem nenhum tipo de restrição ou impedimento, por meio de uma simples comunicação à mesa da casa legislativa a que pertence e da assinatura da nova filiação, parece desconsiderar a opção do eleitor, consubstanciando-se como uma negação ao voto que o tornou um representante popular. Entendo como da maior significação o ato do cidadão escolher este ou aquele candidato porque ele faz parte de um determinado grupo, que abraça e defende uma linha ideológica ou programática.
A prática da mudança de partido por meros interesses pontuais ou contingenciais, dificulta a formação de blocos partidários de sustentação legislativa dos governos, põe em risco a eficácia administrativa das administrações públicas, imprime constantes negociações entre Executivo e Legislativo, sem contar que complica a formação de um sistema partidário com legendas fortes e de base doutrinária sólida.
De modo que a questão principal que se coloca na discussão em torno da fidelidade partidária é a necessidade de se fortalecer as instituições com vistas à consolidação da democracia no Brasil.
O exercício da fidelidade partidária respalda a bandeira ideológica dos programas partidários e otimiza a relação do eleitor com o político, consolidando as instituições partidárias e, evidentemente, as suas bandeiras políticas.
O instituto da fidelidade partidária é um passo decisivo no processo de reforma, moralização e modernização de nossas instituições políticas.
É uma antiga reivindicação de todas as forças progressistas, porque limita o trânsito de parlamentares entre legendas a troco de vantagens pessoais. Ao forçar um parlamentar a permanecer no partido pelo qual se elegeu, cumpre-se a vontade do eleitor que escolhe candidato e partido e raramente é consultado quando seu representante resolve mudar de sigla.
A sociedade tem cobrado do Congresso Nacional a realização das reformas necessárias, entre elas as mudanças na legislação tributária, trabalhista e a reforma política. Infelizmente, esse é um processo que tem caminhado lentamente. (Nossosqueridos parlamentares adotaram a tartaruga de mascote!)
Por acreditar que a fidelidade partidária é um passo à frente para a transformação da política brasileira, sempre a defendi, até como uma maneira de dar mais transparência e credibilidade aos políticos. A atividade pública deve ser exercida com seriedade e lealdade a princípios éticos e políticos que mudam de partido a cada hora contribuem para a desmoralização de toda a classe política.
A fidelidade partidária é necessária para evitar o fisiologismo, o troca-troca partidário por interesses escusos, mas não pode tolher ou limitar as ações dos políticos. Não pode ser uma camisa de força a limitar as convicções e ações de um parlamentar.
Ser fiel e leal às bandeiras partidárias não significa, necessariamente, concordar sempre com as decisões da cúpula partidária. Continuo a acreditar que a reforma política e, conseqüentemente, a exigência do cumprimento de um prazo mínimo de filiação dos candidatos, são absolutamente necessários para a depuração da atividade pública.
Como a maioria da população, considero que a política deve ser exercida com decência e ética. E acredito que o político deve filiar-se e permanecer em uma legenda, com coerência, defendendo os ideais partidários. A recíproca, porém, deve ser verdadeira. A fidelidade partidária não pode ser usada como desculpa para punir parlamentares por seus desafetos internos. Deve ser, sim, um instrumento para a moralização da política brasileira, impedindo o troca-troca de partidos.
De quem é o mandato?????
STJ responde: o mandato é do partido, não do político eleito.
Discussão encerrada!
Será????
Enquete!
Para você, de quem é o mandato?
( )Do político, pois foi ele quem recebeu o voto.
( )Do partido, pois foi por aquela legenda que ele foi eleito.
( )É meu porque fui eu quem votou!
( )É de ninguém, e vamos acabar com a palhaçada e fechar o Congresso que para nada serve!
( )Ajuda aos universitários.
( )Cartas.
( )Próxima pergunta.
sábado, 12 de maio de 2007
Dia do leitor por Shamylle Alves
Em um país que a cultura de se ler livros não é forte, onde o incentivo para a sua produção e até mesmo a leitura não é prioridade, é raro encontrar pessoas que se interessam em ler, ainda mais se a procura for entre o mundo jovem.
Os adolescentes hoje, estão antenados nas ultimas novidades das tecnologias, da internet, e da televisão. Porem são poucos que saberão dizer qual foi o ultimo livro que leu, e sobre o que ele falava.
Porem, a exceções. Uma delas é Gabriela Zorzal, adolescente de 18 anos, estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo. Apaixonada por literatura, desde que se conhece por gente é fascinada pelo mundo literário, tanto que não se contentou em apenas devorar livros e passou a também escrevê-los. Publicou seu primeiro, ‘O Verdadeiro Sentido’, quando tinha apenas 15 anos, e está para publicar seu segundo, ‘Os Micos da Mamãe – baseado em fatos reais’.
Entrevistamos então Gabriela. Ela nos contará sobre a sua experiência como leitora e escritora, e sua visão sobre a literatura nos tempos de hoje.
Shamylle - Quando começou seu gosto pela literatura?
Gabriela - Sempre gostei muito de ler, desde de pequena. Meus pais me incentivavam muito e eu estava todo dia na biblioteca da escola pegando um livro diferente. Ainda hoje sou assim. Não consigo ficar muito tempo sem ler um livro.
S - Como sugiu a idéia do seu primeiro livro?
G - É difícil ser específica, as vezes acho que desde sempre quis. Mas foi com 8 anos que eu falei para os meus pais que iria fazer.
S - Como eles reagiram?
G - Sempre me apoiaram em tudo e com isso não foi diferente. Mas acho que eles mesmos não acreditavam muito, pelo menos não que seria tão nova. Eles ficaram surpresos quando eu saí do computador um dia, aos 13 anos, e disse "está pronto".
S - Você concorda quando dizem que no Brasil se lê pouco?
G - Concordo. Livros então, cada vez menos. Os jovens, principalmente, estão sempre na TV e internet, acho que muito mais internet até. A TV já foi deixada de lado por alguns. Mas o problema não é esse, porque na internet tem muita coisa boa. Falta incentivo nas escolas, na família, enfim, a leitura para muitas pessoas é um sacrifício, e não deveria ser assim. Acho a leitura algo extremamente prazeroso com a qual não conseguiria viver, faz parte do meu dia-a-dia, é hábito.
S - Os novos escritores têm apoio para lançarem livros?
G - Posso falar com relação ao Espírito Santo. O apoio é muito pouco. Um dos incentivos é a Lei Rubem Braga, que exige uma burocracia imensa, o projeto passa por um processo de seleção que dura um ano e praticamente todos que são aprovados ou são dos próprios selecionadores ou de amigos deles. Isso dificulta muito porque todo o trabalho em torno da publicação de um livro é muito caro.
S - Soube que você está pra lançar o seu segundo livro. Sobre o que ele fala?
G - Já está sendo editado e se tudo correr bem, dentro de um prazo máximo de dois meses estará saindo. Chama-se 'Os Micos da Mamãe - baseado em fatos reais'. Fiquei algum tempo ouvindo histórias de situações engraçadas que as mães de meus amigos passaram ou fizeram os filhos passarem. É impressionante como elas são mestres em pagar mico. Me diverti muito escrevendo e espero que o pessoal se divirta também.
A Venenosa por Simone Azevedo
Enfim, a matéria que dessa vez não foi idéia do editor chefe Rafael Arcanjo, mas sim da professora da disciplina acima citada, Yasmine Rofmann.
A jornalista ressaltou a importância da preservação e do constante aperfeiçoamento dos valores permanentes do jornalismo impresso: originalidade, texto interpretativo e analítico, situando o fato dentro de um contexto mais amplo, com pesquisa e opinião. “Para qualquer veículo que o repórter trabalhe, seja de jornalismo impresso, televisivo ou rádio, o mais importante é ter um bom texto. Capacidade de escrever bem é o que será mais importante nessa nova fase do jornalismo”, afirma.
O advento do computador acabou eliminando sumariamente um número considerável de empregos nas empresas jornalísticas. Nas clássicas redações havia uma espécie de ritual em que a diagramação desempenhava um papel, além de estético, absolutamente essencial e especifico. Isso também mudou. Aos poucos, um único diagramador passou a servir a vários editores. Numa segunda etapa, o próprio editor foi se tornando diagramador. O repórter foi se tornando seu próprio revisor, resultando do desaparecimento da figura do copidesque. Leitores mais atentos observam os resultados, na maioria das vezes, nada apreciáveis, de todas essas alterações: falhas grosseiras de digitação, erros absurdos de gramática e concordância, diagramações sem criatividade, etc. . Mas, pelo que afirma Denise, tudo isto é absolutamente irreversível. “Os custos de produção e distribuição são reduzidos na Internet. A Internet é um veículo que não precisa da injeção de capital dos anunciantes para sobreviver nem gasta papel”, conclui.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Amarra Experimental por Natasha Siviero
Eu também vou postar a entrevista.
Dica de hoje: Aproveite a prepotência típica da tpm para criticar, falar mal mesmo.Manda ver!
(mas da entrevistadora, porque os entrevistados são todos homens)
Pensamento do dia: O amor deixa Sequela
E lá vai a entrevista
Música, performances artísticas, fogo, decorações que induzem a alucinação. A descrição parece de um ritual tribal, mas trata-se das festas rave,que vem crescendo no Brasil e especificamente no cenário capixaba nos últimos anos.
Alguns atribuem às festas eletrônicas a volta do consumo de drogas sintéticas. O LSD por exemplo que marcou a geração dos anos 60, volta a fazer parte do universo dos jovens de classe média e alta.
As raves parecem assombrar um cada vez mais os pais que desconhecem as festas e que não tem diálogos abertos com os filhos.A estudante de jornalismo Natasha Siviero descobre, num bate-papo franco, o que rola nas raves.
A quanto tempo vocês freqüentam festas rave?
Thiago:Desde 2004. Nesse tempo já consegui levar minha mãe, meu pai e minha irmã.Na próxima rave vou levar a minha avó.
A relação que se faz entre drogas sintéticas e festa rave e válida?
Gabriel:É claro que ocorre o uso de drogas, como em todos os tipos de festa, mas a relação não é necessária. Eu freqüento rave e já tive a oportunidade de experimentar todos os tipos de droga.Nunca experimentei nem maconha.
Nem teve vontade?
Gabriel:Não.Só doce (LSD) que eu vou provar, não vai demorar muito.Mas ainda não chegou a hora.
Qual é a onda de doce?
João:Eu fico viajando na música.
Paulo:Cara, eu penso. Eu fico olhando para as pessoas, tentando entender tudo.
Thiago:Vou explicar. A gente tenta entender tudo que rola ali. Primeiro eu tento entender o som, porque o som tem uma lógica que a gente só enxerga quando está muito doido. Você consegue ver o som, é difícil, mas eu já cheguei num estagio que eu vi o som, que eu decifrei o som todinho, eu podia prever o som, e foi só com maconha.Depois você tenta entender as pessoas a sua volta,ai você olha ao seu redor, vê o que as pessoas então fazendo e falando e acha uma conexão entre tudo aquilo.Você fica analisando as pessoas.
Você se analisa?
Paulo:Eu me analiso. Analiso qual é a minha função ali.Vejo se minhas atitudes são diferentes das atitudes das pessoas que eu estou analisando e julgando.E lá dentro é laboratório social, você vê de pertinho vários exemplo da sociedade.
Não da pra fazer isso de cara?
Thiago:A manifestação das pessoas pela dança e pelas atitudes é uma coisa muito clara, mas só o ácido faz você ver isso. Por isso eu me apaixonei pelo ácido, é uma aprendizado muito grande. E é um aprendizado pro resto da vida. Se você não tomar nada você vive sua vida inteira no mesmo estado de consciência e eu não me imagino viver minha vida inteira no mesmo estado de consciência. Você poder olhar tudo de uma maneira diferente é uma experiência maravilhosa. Você entra numa realidade só sua. A onda é diferente em cada pessoa.Só você enxerga ,só você ouve ,e sua fala não consegue acompanhar seu pensamento.E eu acho que isso fica nos seu sub -consciente de uma maneira muito positiva.Corta preconceito,sabe?
Corta preconceito?
João:Corta.Tanto que em dois anos de rave eu nunca vi nenhuma briga.A única briga que eu vi foi segurança batendo em frito.( pessoa eu está sob efeito de droga)
As drogas deveriam ser legalizadas?
João:Não dá pra legalizar.Ia dar muito viciado usando, muito acidente de carro.Para ser legalizado o país tem que ser desenvolvido.No Brasil não ia dar.
Thiago:Tem que legalizar a maconha, para acabar o tráfico de droga. Hoje quem quer fumar maconha, fuma, é muito fácil de comprar, não ia mudar nada em relação à quantidade de usuários. Ai existiria um controle de qualidade da maconha, do mesmo jeito que existe um controle de qualidade dos alimentos,porque a maconha que a gente fuma é uma droga.Acho que seria positivo legalizar ,mesmo porque a maconha não é uma droga violenta como o crack e a cocaína
Paulo:Eu acho que plantar deveria ser legalizado. Você poder plantar o que vai consumir, pelo menos.
Como vocês vêem o aumento do consumo de drogas sintéticas?
Thiago: Eu acho muito ruim, aliás, esse foi um dos motivos que me fizeram parar de usar drogas.As pessoas estão desperdiçando a onda, se drogando só pra ficar doido, um querendo ficar mais doido do que o outro.Isso está rolando muito nas festas, as pessoas usando sem consciência.
E tem como usar droga com consciência?
Thiago:Você tem que usar droga pra se conhecer.Eu tenho idéias , eu não passo a rave em vão fazendo besteira.
E o que vocês pensam do futuro?
Thiago:Essa minha fase já passou. Eu estou me dedicando aos estudos da filosofia.
Paulo:Thiago está com umas teorias muito legais.Está começando a se entender como gente.João ainda precisa aprender a ponderar a existência
Como assim?
Paulo:Ele não pensa na vida
Pensa?
João:Claro, eu tomo doce.
quarta-feira, 9 de maio de 2007
Quero ser Miriam Leitão, por Sylvia Ruth
Plantei um verdinho, verdinho...
... E colhi maduro.
No último post eu joguei um verde, para saber se o povo lê minha coluna, e gostei do resultado.
Eu não estou em crise amigos, eu gosto de economia, e da macro mesmo, e vocês que se divirtam falando sobre comportamento. Como a Miriam Leitão não conseguiu marcar uma hora comigo para eu entrevistá-la, não postarei entrevista alguma, como fizeram minhas colegas de blog.
Mesmo sabendo que as duas conhecem muito bem meu humor mal resolvido (elas sabem que eu não estou criticando o oportunismo de ambas em usar o exercício de Teorias e Práticas Jornalísticas para meios Impressos como o post no Jota desta semana) gostaria de retificar qualquer mau sentimento que possa ser interpretado nas últimas linhas acima. Tanto é que nem vou comentar que Simone apenas concretizou uma idéia do nosso editor-chefe, Rafael Arcanjo.
Eu profetizo
Usando o conceito de “profeta” do Aurélio (aquele que prediz o futuro), eu posso dizer: eu profetizo.
Há umas semanas atrás, eu comentei sobre o perigo da compra de dólares pelo Banco Central, enquanto pouca gente se tocava para isso. Mas qual não foi minha surpresa, quando quinta-feira da semana passada, eu ouvi Carlos Alberto Sardenberg falando exatamente sobre isso na bancada do Jornal da Globo. É amigos, sinal dos tempos... É o Jota-i pautando os outros.
Para quem não acompanhou, eu disse que o perigo da compra de dólares é que para comprá-los, o governo precisa emitir títulos da dívida pública e isso faz aumentar a dívida pública. É bom porque o governo faz reserva de uma “moeda forte”, mas é ruim porque essa dívida sem-fim que é a interna, cresce.
Só para ilustrar
Sobre a montagem que ilustra a coluna de hoje: é minha sim. Tive uma luz dia desses, antes de dormir; quando acordei, corri para o computador.
Se sexta-feira vai ser feriado?
http://www.senado.gov.br/agencia/ultimas/verNoticiaUltimas.aspx?codNoticia=14122
Eu já sabia, você já sabia, nós já sabíamos
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL28194-5602,00.html
***
Tentando experimentar o que nossa palestrante de segunda-feira, Denise Zandonadi, disse, hoje minha coluna teve muito de utilidade pública. Fala que não?
domingo, 6 de maio de 2007
Ave Franklin! Por BruneLLa Wyvern.
Não sou a Patty Literária, mas quero recomendar que todos leiam "Elas Contam". O livro é fantástico!!! Se na livraria mais perto da sua casa não tiver, podem encontrá-lo no site: www.elascontam.com.br
Leiam leiam leiam! Permitam-se encontrar não só com o texto da Lavínia, mas com o livro todo, desde a capa! Vale a pena!!!
Só para reforçar o discurso: RESPEITO ÀS DIFEREÇAS!
Fiquem com a entrevista!
"Lesbian is beautiful"
O projeto é ousado: 15 escritoras lésbias de diferentes lugares do Brasil reunidas num mesmo livro. Em conversas casuais, pelo MSN, a doutoranda em Literatura Comparada – pesquisadora de literatura homoerótica, especialmente a feminina – na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Lúcia Facco viu se delineando o projeto literário que resultou no livro Elas Contam, lançado em novembro de 2006. “Tive a certeza de que não só (lesbian) is beautiful, mas é farto, talentoso, corajoso e produtivo. (...) Elas contam. Contam seus desejos lésbicos, por tanto tempo silenciados. Contam como seres humanos importantes, talentosos, representativos de uma grande parte da humanidade”, escreve a pesquisadora na apresentação do livro.
A literatura lésbica feita por mulheres é recente, salvo raras exceções. Por séculos, o amor entre mulheres foi descrito e escrito por homens. Seus textos apresentavam medos e fantasias masculinas, fetichizando o amor lésbico.
Para falar mais sobre o livro Elas Contam e a literatura homoerótica feminina, convidamos a escritora Lavínia Motta. Ela é a escritora mais jovem das 15 presentes no livro. Lavínia, 22 anos, natural de Colatina – ES, é pós-graduanda em Direito Público pelo Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC). Seus primeiros textos – “Carol e Luisa: almas gêmeas?” e “Desencontros”, este em co-autoria com Mariana Cortez – foram publicados no site glsplanet. “A semântica dos sinônimos” é o conto de Lavínia Motta publicado em Elas Contam, o primeiro de forma impressa. Confira agora a nossa entrevista.
Jornalismo Incompetente - Quando você começou a escrever literatura lésbica? Como foi a sua primeira experiência?
Lavínia Motta - Comecei no começo de 2005, por pura necessidade de expressar certos sentimentos. Tem sido uma experiência ótima porque alivia minha cabeça, como se certas angústias ficassem pressas no papel. Uma verdadeira sessão de descarrego.
BW - Você já conhecia o site glsplanet antes de postar seus textos lá? Por que escolheu aquele espaço para publicar seus textos?
LM - Conheci “futucando” a Internet. Comecei a ler os contos lá publicados, fiz amizades com as autoras que mais gostava e um dia resolvi escrever também. E foi como um ciclo porque a partir do momento que comecei a escrever, fiz novas amizades. Interessante também são as críticas (positivas e negativas) que recebemos.
JI - Foi difícil decidir encarar os olhares dos leitores sobre o que estava escrevendo? Já sofreu algum preconceito por parte de algum leitor ou escritor?
LM - Por eu escrever em um site propriamente gay, o preconceito homofóbico não rola. O que já aconteceu foram leitoras criticando a minha forma de escrever, pois esperavam um romance a la “Júlia”, “Sabrina” e afins. Nada contra quem gosta de ler ou escrever neste estilo, mas eu não curto este tipo de literatura.
JI - Quem a convidou para escrever no Elas Contam?
LM - Quem me convidou foi a Hanna-K, uma grande escritora e amiga muito especial. Houve uma seleção e ela me sugeriu escrever algo para concorrer. Acabei sendo selecionada.
JI - O seu conto no livro, A semântica dos sinônimos, foi descrito na apresentação do livro como “o amor que se basta”. Você concorda com isso? Fale-nos sobre o seu conto.
LM - Sim, porque a Nádia bastava o amor do marido e da filha. Ela não busca amor em seu envolvimento com Teresa, uma ex-aluna. O que ela deseja é uma paixão, algo carnal que atende suas necessidades sexuais. O amor já era bastante em sua vida, mas faltava uma pitada de paixão...
Geralmente, quando há um relacionamento heterossexual nos contos lésbicos, a tendência é que a heroína abandone o homem para ficar com uma mulher que amam. Eu quis dar uma nova versão. Nádia não precisou largar o marido para viver sua paixão com Teresa, porque ela o amava. Contudo, Teresa foi além da paixão. Nádia não é uma heroína, muito menos uma vilã, mas só uma mulher bissexual cujas necessidades vão além de um casamento seguro (mesmo que cansativo, às vezes), de amor certo.
JI - O que a inspirou a escrever a história de Nádia e Teresa?
LM - Sempre busco inspiração no cotidiano. Pode parecer uma resposta clichê, mas é no cotidiano que busco os elementos essenciais de cada personagem, a imaginação entra para dar um ou outro toque na personalidade delas.
JI - Como foi a experiência de participar do Elas Contam? O isso significou para a carreira da Lavínia?
LM - Participar da coletânea “Elas Contam” foi maravilhoso. Certamente fiquei estimulada a escrever mais. Muito bom abrir o livro e ver o próprio nome no meio de autoras excelentes, melhor ainda é poder participar dos lançamentos e ver as pessoas entusiasmadas com a leitura.
JI - Você tem algum outro projeto em vista?
LM - Sim, mas ainda é cedo para comentar. Por enquanto está só na mente.
JI - O que você tem a dizer para outras escritoras lésbicas que ainda não saíram do armário?
sábado, 5 de maio de 2007
Dia do leitor por Aline Dias
Por mais que Roberta fizesse tudo e parecesse ter pouco medo, não era daquilo que ela gostava. Quando eles pediam, ela mal acreditava.
Roberta casou-se grávida aos quinze anos de idade. Era só uma menina que seria feliz para sempre com o primeiro namorado. Por algum motivo, no entanto, ele não bastou. Os dois se divorciaram. Ela, que sempre foi comerciante, abriu uma boate para vender mulher. Ficou rica, tinha carro importado e dólares. Não obstante, agüentar o tranco da boate não era para alguém doce como ela. Roberta não levaria o mundo das drogas nas costas.
Tinha uma grana boa e resolveu viver por conta. Acontece que dinheiro acaba e a grana dela foi-se. Dinheiro fácil e bom ela sabia bem como ganhar. A comerciante então se vendia, sem beijos ou promessas de casamento. Ela se vendia e se escondia do mundo. Havia a puta, mas por trás dela havia alguém que não teve tempo de ser adolescente e resolveu compensar as paixões aos trinta e cinco. Sexo era profissão e entre um programa e outro ela procurava o rapaz que lhe agitava o coração.
Roberta sabia de toda a ironia. Sabia que o rapaz não podia saber de nada e agüentava o tranco da desconfiança bem fundamentada dele. Era o que ela era, afinal. E ela se perguntava se ele a amava quando ele a pedia que largasse tudo e passasse fome.
Roberta não passaria fome. Nos sonhos dela ninguém meteria a mão. Se a menina tinha aflorado aos trinta, que ficasse ali por mais quinze anos.
Ela não saberia quem gostava dela ou não. Permaneceria ouvindo músicas sensuais e se remexendo na cama, de bruços, queixo apoiado na mão e sonhos sem fim.
Que fiquem registrados, então, os olhos doces da menina Roberta.
A Venenosa por Simone Azevedo
Trabalhando como garota de programa há cinco anos, vivendo em uma quitinete em Coqueiral de Itaparica, Roberta (nome fictício) concordou em dar entrevista com a condição de que não houvesse foto e que seu nome verdadeiro não fosse revelado. “Não quero aparecer para não expor meus filhos”, justifica.
Loira, sorridente, abusa do visual sensual para conseguir clientela. Esmalte vermelho, mini-saia e decotes extravagantes fazem parte do seu figurino de trabalho. Nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, tem três filhos de 16, 18 e 20 anos. É separada judicialmente e namora um rapaz de 22 anos filho da atual esposa do seu ex-marido. “Nosso namoro foi uma revolução na família”, comenta.
Com 35 anos, ensino médio completo, receptiva e desembaraçada, Roberta mostra um bom nível cultural. Deitada de bruços, mãos apoiadas no queixo, como quem faz confidência a uma amiga, à vontade e bem falante, em uma das duas camas de casal que compõem a modesta mobília da quitinete junto com uma mesa de vidro e seis cadeiras, um guarda-roupa grande, um freezer e um pequeno aparelho de som, ela conta como começou a se prostituir e o que a levou a optar por essa profissão.
Jornalismo Incompetente: Como começou a fazer programas?
Roberta: Comecei a fazer programa depois que fechei a minha boate. Quando tinha uma boate, eu só administrava e recebia o dinheiro das meninas que trabalhavam para mim. Então, quando o negócio começou a desandar, eu fechei e comecei a fazer programas para não ficar parada e enquanto não arrumava outra coisa para fazer.
JI: O que você fazia antes de administrar uma boate?
Roberta: Eu sempre fui comerciante. Já tive salão de beleza, já trabalhei com peças intimas e jóias.
JI: O que levou você a optar por ser garota de programa? Questão de sobrevivência ou desejo de luxo?
Roberta: O dinheiro rola fácil. Não se pode negar isso. E além de fácil é muito. Jorra uma grana violenta. Eu não me importo com muito luxo. Nem quando eu era casada eu gostava de roupa de marca. Mas eu tinha um carro importado quando tinha a boate, me vestia sempre bem. O importante é se vestir bem. Marca não é importante. Eu tenho meu próprio carro, me visto bem. Fazer programas é um trabalho muito bom.
JI: Você tem vontade de parar de fazer programa e fazer outra coisa?
Roberta: Como eu já disse, é um trabalho bom. O único motivo que me faz querer fazer outra coisa são as meninas que trabalham comigo. Elas são muito bandidas. Na boate que eu tinha elas costumavam dar telefone para os clientes e marcar saídas por fora. Já as mulheres casadas que trabalhavam lá não eram bandidas. Elas diziam para os maridos que iam trabalhar como doméstica, faxineira, qualquer coisa assim, e passavam o dia fora de casa. Terminado o horário na boate, elas iam para casa. Não davam telefone para os clientes. Essas são as melhores de se trabalhar. As outras são tudo bandida.
JI: Qual o perfil dos seus clientes e quanto você cobra por programa?
Roberta: A maioria dos meus clientes são homens de todas as idades. Têm coroas, jovens, solteiros, casados. Até menor de idade me liga. Muitos rapazes novos, bonitos, por incrível que pareça ligam procurando programas. Mas eu atendo também muitos casais e damas. Eu cobro 60 reais a hora. Mas é comum os clientes nem ficarem uma hora inteira. Eles perguntam quanto é meia hora, eu digo que é 40 reais, ás vezes eles pedem pra fazer por 30. Dependendo do caso eu faço.
JI: Você já sofreu agressão física de algum cliente?
Roberta: Graças a Deus não. Nunca fui socada. Tem muitas meninas que reclamam que são socadas, que apanham. Mas eu nunca fui. Se o cara começa a querer me bater, eu paro logo e mando embora. O pagamento é adiantado mesmo. Não aceito levar porrada de cliente não.
JI: Você usa preservativos em todas as relações mesmo contra a vontade do cliente?
Roberta: Sim. Eu acho preservativo uma porcaria, mas é um mal necessário. Outro dia fiz um checape, vi como estava a minha saúde. Tudo direitinho.
JI: Você sente prazer durante as relações?
Roberta: Na maioria não. Mas eu dou uma gemidinha para agradar o cliente. O ruim é quando um homem feio me faz gozar. É uma merda. Ás vezes um cara bonito não me faz gozar, aí vem um feio e faz. Eu odeio quando isso acontece. O jeito é jogar a bandeira do Brasil na cara dele e fazer por amor á pátria.
JI: Como você lida com a sua família e com o preconceito da sociedade?
Roberta: Meus filhos sabiam que eu tinha uma boate. Eles não sabem que eu faço programa, mas acho que eles desconfiam porque não são otários. Outras meninas já reclamaram de sofrer preconceito da sociedade, mas eu nunca fui recriminada. Já até namorei três clientes. E eles não reclamavam do meu trabalho. Me conheceram assim. Só o namorado de agora reclama. Eu faço escondido dele porque ele não gosta. Mesmo quando eu falo que to sem dinheiro e peço para ele deixar eu fazer um programa ele não deixa. Se ele souber que eu faço programa ele fica uma fera.
JI: Que tipo de fantasia geralmente os clientes pedem para você realizar?
Roberta: O que é comum muitos clientes pedirem é para eu fazer dominação. Eles já perguntam quando ligam. Já perdi muito cliente porque achei que fosse trote. Mas tem muitos que gostam de sofrer, de serem dominados. Eles pedem para eu amarrar uma coleira no pescoço deles e arrastar feito cachorro. Eu mando eles limparem a casa, amarro eles na cama, bato, piso de salto fino, mijo na boca. Chamo eles de Maria. Muitos nem encostam em mim. O tesão deles é ser dominado. Depois se esfregam no chão, gozam e vão embora.
JI: Qual a fantasia mais inusitada que você realizou?
Roberta: A mais inusitada foi a de uma cara que queria rasgar um vestido no meu corpo. Ele pediu para eu vestir um vestido velho qualquer porque ele queria rasgar o vestido em mim. Pagou 60 reais só para rasgar um vestido. Outra fantasia estranha foi a de um cara que sentou em um ferro grosso e grande da cabeceira da cama. O ferro entrou todo dentro do ânus dele. Ele gozou e depois foi embora.
JI: Reza a lenda de que prostituta não beija na boca. Isso é verdade?
Roberta: Beijo na boca é uma coisa de quem ama. Na maioria das vezes não beijo cliente. Na verdade eu nem gosto de beijar na boca. Já enjoei. Nem meu namorado eu beijo muito. Tem cliente que já pergunta quando me telefona se eu beijo. Ás vezes eu abro uma exceção, é claro. Se for um cliente bonitinho, com uma boquinha limpinha, sem mau hálito eu até beijo. Aí não tem como não beijar. Mas se for velho banguela , horroroso e nojento eu não beijo mesmo.