quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Bem senhoras e senhores. Por BruneLLa França.

Bem senhoras e senhores, como explicar o inexplicável? No Estádio dos Trabalhadores em Beijing, lágrimas. A Seleção Brasileira de Futebol Feminino perdeu a final para os Estados Unidos por 1 a 0. Gol marcado aos seis minutos da prorrogação. Um resultado injusto.


Nenhuma derrota do Brasil nas Olimpíadas doeu tanto quanto essa. Começamos respeitando as adversárias e elas a nós. A equipe estadunidense chegava com dois ouros olímpicos (1996 e 2004) e dois mundiais (1991 e 1999). As nossas meninas chegavam com o futebol arte, com o melhor toque de bola entre as seleções femininas e os maiores talentos individuais da atualidade: Marta e Cristiane.


Criamos chances sim. Marta, velocista e habilidosa, saiu do meio de duas, três, quatro. Mas não havia ninguém na área, ninguém chegando para finalizar. Ela também driblou, chegou, chutou, mas não podia fazer tudo sozinha. Nenhuma outra jogadora lutou tanto, acreditou tanto quanto a camisa 10.


Cristiane se movimentou muito na frente, abriu espaço na defesa. O meio de campo, porém, não apareceu. Faltou a ligação tão imprescindível num time de futebol. A ligação com a qual elas estão acostumadas a jogar. Mesmo assim, jogamos no campo de ataque dos Estados Unidos quase o tempo todo. E se há um nome que deva ser destacado na seleção adversária é o da goleira Hope Solo. Ela defendeu um chute de Marta quando o grito de gol já ensaiava sair.


No segundo tempo, as estadunidenses chegaram apenas duas vezes, com perigo, é verdade. E Bárbara estava lá para defender. Veio a prorrogação, vieram os 30 minutos que poderiam definir a medalha. Poderiam porque em caso de novo empate, iríamos para os pênaltis. Não foi preciso. Uma falha de marcação da defesa brasileira e a bola foi parar no fundo da nossa rede.


Nem o gol abateu a seleção. As meninas foram mais para cima ainda. E a bola, caprichosamente, não entrou. Marta (três vezes), Cristiane (duas vezes), Renata Costa, Erika, Fabiana. Todas elas chegaram perto, todas elas passaram junto à trave. E a bola saiu. Mesmo num campo pesado pela chuva, desgastado pela partida anterior, elas correram, marcaram, superaram os limites possíveis do corpo.


Eu, que sempre me recusei a usar uma máxima exaustivamente repetida no esporte, hoje me rendo à ela: não era para ser. Dói ver as lágrimas em rostos que mereciam sorrisos. Dói conquistar uma prata sabendo que podíamos, que merecíamos, o ouro. Dói ser a segunda melhor selação feminina nas olimpíadas.
A torcida chinesa, que torceu pelas nossas meninas como se fossem brasileiros, aplaudiu, ovacionou nossas atletas enquanto elas choravam no pódio, inconformadas com o segundo lugar. Faltou o detalhe do gol. Faltou a finalização milimetricamente precisa. Mas a exibição a que assistimos não deixa dúvidas de que a seleção feminina é sim a melhor seleção do mundo. Continua faltando um degrau. Continua faltando um grande título. Mas não há dúvidas de que elas podem conquistá-lo.


Quero terminar este texto discordando de uma frase dita por Marta ainda antes de começarem os Jogos. A melhor do mundo foi apontada pela revista Times (EUA) como uma das 100 maiores estrelas das Olimpíadas. Única atleta brasileira na lista. Ao ser questionada sobre a sensação de ser uma das grandes estrelas, Marta respondeu: “A seleção brasileira num todo é uma estrela só. A Marta só não é uma estrela”.


Escrevo aqui meus louvores à humildade da melhor jogadora do mundo. Mas discordo dela. Ousadia minha? Talvez. Mas é preciso dizer que a Seleção Brasileira Feminina de Futebol não é uma estrela só. É uma constelação de 18 estrelas. Andréia Suntaque e Bárbara (goleiras); Andréia Rosa, Renata Costa, Tânia Maranhão e Erika (zagueiras); Simone Jatobá, Rosana e Maycon (laterais); Formiga, Daniela Alves, Francielle, Ester (meias); Pretinha, Fabiana, Maurine, Cristiane e Marta (atacantes). E o brilho delas é muito maior que o da medalha de prata.


Fica a tristeza sim. Mas fica ainda mais forte a admiração pelo que fazem essas meninas com a bola nos pés. Como jogam! Como encantam! Como se superam! Deixo aqui minha reverência a essa seleção brilhante e agradeço por nos proporcionarem o espetáculo que é vê-las jogar. Parabéns meninas. Vocês são muito mais valiosas que a medalha que carregam no peito!


6 comentários:

Cadinho RoCo disse...

Faço minhas suas palavras porque essas meninas mostraram em campo o que não registra vitória, mas dignidade. Elas mostraram brio.
Cadinho RoCo

Aline Dias disse...

bru
vc dá um show sendo cronista esportiva.

Anônimo disse...

maravilha! Adorei ter estado aqui.Um abraço

Meu blog disse...

Bruna, vc faz jornalismo? onde moras?
Fellipe

Cadinho RoCo disse...

Voltei.
Cadinho RoCo

o que me vier à real gana disse...

Bom blog!