terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Ave Franklin por Simone Azevedo

Presidente surpreso: ele não sabia de nada

Em 2005, o Brasil sofreu uma grave crise política. O esquema do “mensalão” veio à tona e seus artífices foram desmascarados (mas não punidos, infelizmente). O presidente Luis Inácio Lula da Silva, fez patética afirmação que certamente marcará a história política do país: “eu não sabia de nada”.
Seria ingenuidade, para não dizer burrice, acreditar nessa afirmação descabida. Entretanto, é humanitário dar uma segunda chance, um segundo voto de confiança a nosso ilustre comediante, quer dizer, presidente. Foi exatamente isso que os eleitores fizeram nestas últimas eleições que reelegeram o presidente Lula. Apesar dele supostamente “não saber de nada”, a benevolência brasileira deu-lhe um segundo voto de confiança. Mas é fundamental ficar sempre com um pé atrás para não marcar bobeira. Sendo assim, aqui vão alguns avisos ao nosso governante desavisado para que ele não seja pego de surpresa outra vez.
Quando a repulsa internacional denunciar o Brasil, sujando, manchando e emporcalhando de uma vez por todas com a imagem do país (que já é péssima) por ser um dos pontos internacionais de turismo sexual infantil, não queremos que nosso presidente seja mais uma vez surpreendido. Afinal, esta é mais uma grave crise que assola o país.
Quando as nossas cidades estiverem em plena guerra civil devido às intensas desigualdades sociais e a conseqüente violência que cresce em ritmo acelerado, esperamos que nosso presidente não repita, abusando da boa vontade dos eleitores, que não sabia de nada.
A morte do menino de seis anos no Rio de Janeiro, preso ao cinto de segurança e arrastado por bandidos durante 7km, retrata o estado calamitoso em que nossas cidades se encontram. A maneira chocante e os requintes de crueldade do crime abalaram profundamente a população. Mas este acontecimento não é um caso isolado. Inúmeros crimes bárbaros invadem os noticiários diariamente.
Quando o país for incluído no circuito das entidades beneficentes internacionais por equiparar-se ao quadro de miséria de paises africanos, esperamos que o nosso poder Executivo não seja pego de surpresa mais uma vez.
Quando a Amazônia for internacionalizada pela ganância internacional ou destruída pelo descaso nacional, não queremos mais ser subestimados ouvindo o presidente dizer que não sabia de nada.
Quando grande parte da população desprotegida for acometida por epidemias que em muitos outros países já foram erradicadas há muito tempo, também não queremos ouvir o discurso da desinformação presidencial.
A crise no setor aéreo também foi motivo de surpresa, mas será que a provável e não demorada crise no caótico transporte urbano surpreenderá nosso chefe de Estado?
E a crise no setor educacional prestes a estourar devido ao sucateamento das Universidades e escolas públicas. Essa também será surpreendente?
Talvez o presidente não se importe com os riscos que o país está correndo. Essa seria a única resposta plausível para seu descaso. Até porque dizer que “não sabia de nada” é absurdo. Nosso governante não é cego, e vive aqui, dentro deste planeta chamado Brasil. Convive diariamente com nossos problemas. É vítima e causador de muitos deles. Não saber do que se passa diante de seus olhos é impossível, mesmo com a redoma de cristal que passa a cercá-lo depois que ingressa no Palácio do Planalto. Viver com todos aqueles luxos e pompas talvez o faça distanciar-se da realidade. Distanciar-se, mas não ignorá-la.
É fácil não assumir a responsabilidade por uma crise por ela ter começado antes de seu mandato. E mais fácil ainda é não dar a mínima atenção a crises que explodirão depois. Isso é inadmissível, pois um presidente é eleito justamente para trabalhar nas resoluções dos problemas que o país enfrenta. Sejam eles antigos, como as desigualdades sociais, ou sejam eles futuros, como a iminência da internacionalização da Amazônia. E é igualmente inadmissível ouvir tamanha insensatez em suas justificativas.

Nenhum comentário: