sábado, 15 de setembro de 2007

Quero ser Miriam Leitão, por Sylvia Ruth

Aqui, o único release decente do último show de Sandy e Junior. Isso mesmo, Sandy e Junior.


O Último Ato

Evoluí. Foi o que respondi a minha mãe ao porque deixei de gostar de Sandy e Júnior. Assim como no Mito da Caverna, aprendi a gostar da dupla pop mais influente da última década no país, antes de sair por aí vestindo a camisa do “novo Nirvana”, The Strokes.

Na noite da última sexta-feira, ouvindo as denúncias de “brilhante jogada de marketing”, fui assistir a despedida anunciada dos filhos de Xororó como dupla.

Fui tarde, afinal, passei da idade de chegar com o sol a pino esperando os portões abrirem para escolher os melhores lugares na arquibancada. Sim, não dispendi R$60 do meu magro cofrinho para vê-los de perto o bastante – também não estou na idade.

Já eram cinco anos sem vir a Vitória. O último show, no estádio da Desportiva, ainda trazia as músicas do Ao Vivo no Maracanã. E, desta vez, as coisas eram diferentes. Lá, as perguntas mais constantes eram sobre um desata ou não desata, pergunta essa sempre respondida com um não. Hoje, eles já encheram os ouvidos de serem perguntados do “para onde vão agora”, pergunta respondida com um “não importa no momento”.

Mas foi o “Gigante” do Álvares Cabral, devidamente lotado, que fez as vezes de anfitrião de despedida. O mesmo que nos idos de 98, abrigara o primeiro show da dupla na mais provinciana das capitais brasileiras.

Antes mesmo de o show começar, mocinhas mais animadas faziam os socorristas trabalhar. Era a falta de ar, a emoção do momento por vir, e a ida, de maca, para o posto médico. A cena se repetiria durante toda a noite.

O show mesmo começou pouco antes das dez, com flashs pipocando de câmeras e celulares e a Não dá pra não pensar, em que se pode ouvir: “não dá pra não pensar em você, tá cada vez mais difícil não poder te ver, o tempo e distância entre nós não vão arrancar, a vontade que eu tenho aqui no peito, de te amar”, e que lembrou os fãs da meia década entre essa e a última apresentação em Vitória.

Em seguida, veio Super Herói, do álbum internacional, em que Júnior assume a primeira voz, interessantemente mais aceitável no show do que no cd.

Daí se seguiram Nada vai me sufocar, A Lenda e Inesquecível, a queridinha de grande parte do público.

Nessa altura, já era incontável o número de meninas carregadas que perdiam o fôlego e também o show. A intensidade dos gritinhos histéricos era diretamente proporcional ao número de meninas desmaiadas que passavam por mim. Mas o que interessa é o que está no palco.

Fazer um acústico é uma coisa que funciona, e ninguém diz o contrário. Mas para uma dupla acostumada a superproduções com bailarinos, diversas trocas de roupas e pirotecnia a saltar os olhos, um acústico soa no mínimo diferente.

A “dinâmica” do show é outra. Ora eles ficam de pé, ora sentam, trocam de roupa apenas uma vez, após a apresentação de um vídeo-retrospecto de toda a carreira. Nada de bailarinos, coreografia, só movimentos discretos, da Sandy. As coisas acontecem mais rápido do quem nas apresentações das últimas turnês, exatamente pelo minimalismo na medida certa.

Esse show prático, inclusive, dá um tom bem mais adulto ao show da dupla pop-teen. Mas as letras, devidamente açucaradas, não deixam-no soar sem graça, lógico que não.

Na bluesada Enrosca, o joão-gostoso Júnior arranca uivos das meninas, mesmo que não mereça. Cai a Chuva é um dos auges do concerto. Em absolutamente todas as músicas, o público participa aos berros.

Quem queria ouvir a Sandy, mal podia. Aliás, isso não é novo para a jovem-experiente cantora. Que eu me lembre, sempre foi assim. Ela só começa, o povo continua – coisa muito comum para pop stars.

Para saber se a banda faz sucesso, pergunta a sua memória se você lembra do refrão de alguma música. Se sim, ponto. E qualquer criatura que tenha vivido no Brasil nos últimos dezessete anos e que ouviu falar de música pop daqui, já ouviu falar nos intérpretes de Imortal, que aliás, não está no novo disco.

As pessoas crescem, nem sempre evoluem. Talvez tenha chegado a hora deles crescerem, a ponto desse modelo fácil fácil de “verso – refrão pulante – verso – refrão pulante” não caber mais. É chegado o fim. Um Vamo pular repaginado é o último parágrafo da despedida, seguida de um “Muito obrigado”. Por nada.

6 comentários:

Rafael Arcanjo Jr. disse...

Uma vez fã sempre fã! e vc Sylvia pq não desmaiou?
rsrs!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Eu ainda não acredito q Sylvia Ruth tenha mesmo ido a esse show...

qto aos artistas, sem comentários...

Simone Azevedo disse...

huahuahauah
nem acredito no tema da coluna dessa semana

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

EU QUERO A SYLVIA DE VOLTA!!!!!!!


*medo*

Aline Dias disse...

muito bom, Sylvia!

putz.

humor e jornalismo e narração na medida certa.

cultura pop tratada de um jeito... pop!

Sylvia Ruth disse...

Valeu Aline!
Finalmente alguém entendeu o texto!
Obrigada mesmo.