sábado, 1 de março de 2008

A Venenosa por Simone Azevedo

O amante

Sempre tomamos o café da manhã juntos. Fazemos isso há três anos desde o primeiro dia de casados. É nesse momento de companheirismo que tecemos planos para o dia e dividimos nossas angústias de uma vida simples. Mas naquele dia ela não quis conversar. Pegou a bolsa e mal engoliu o pedaço de pão antes de bater a porta ao sair. Atordoado, pensei que eu fosse o culpado por alguma coisa que a tivesse chateado. Passei o dia me torturando e querendo pedir desculpas seja lá pelo que tenha sido. Sai mais cedo do trabalho e preparei um delicioso jantar para esperá-la. Eu tinha medo de ser rejeitado outra vez, mas decidi que tentaria de tudo. Quando ela chegou se jogou nos meus braços dizendo que me amava e que era a mulher mais feliz do mundo. Havia uma felicidade diferente. Ela tinha um brilho no olhar que eu nunca tinha visto antes. A noite foi tão tranqüila como todas as outras. Ela não estava chateda comigo. Tudo não passou de um grande mal entendido...
No dia seguinte, para minha decepção, a mesma coisa aconteceu. Apressada, ela saiu sem ao menos me dar um beijo de despedida. Tudo o que eu recebi foi um até logo seco e distante. Se não era comigo, então só poderia ser um problema no trabalho. Dessa vez não consegui esperar até a noite. Liguei para seu trabalho e perguntei se havia alguma coisa a chateando ou preocupando. Mas ela estava bem. Tudo estava bem. Foi aí que me desesperei. Se o trabalho não era a causa da indiferença dela, só poderia ser outro homem. Minha mulher tem um amante!
Embriagado pelo ciúme, decidi segui-la. Na manhã seguinte ela saiu mais apressada do que antes. Tomou um gole de café rapidamente e saiu batendo a porta. Eu estava disposto a matar o homem que a estava roubando de mim. Por um segundo me vi cometendo um crime com requintes de crueldade. E me senti potente, poderoso, infeliz...Fui atrás dela me esgueirando sorrateiro pelas ruas. Humilhado, rejeitado, indignado. Eu estava cego de ódio. Tudo o que eu enxergava era a minha mulher apressada e ansiosa para encontrar seu amante. E os dois traidores fariam juras de amor e ririam do corno aqui. Entre lágrimas, a vi parar em uma banca de revistas. Era uma banca nova no bairro que costuma abrir mais cedo do que as outras. Ela falou rapidamente com um rapaz. Seria ele seu amante? Continuei espiando, cada vez mais nervoso. O rapaz era jovem, muito jovem. Era um garoto. Talvez o amante fosse o pai dele. O menino lhe entregou alguma coisa que eu não consegui identificar. Talvez uma carta de amor ou uma proposta de fuga dos amantes. Era um chumaço grande, colorido e cheio de páginas. Ela retirou alguma coisa da bolsa e entregou de volta ao moleque. Era pequena e metálica. Confuso, fiquei olhando ela se afastar absorta em sua leitura. Corri atrás dela para desmascará-la. Eu precisava tirar essa história a limpo de uma vez por todas. Quando me viu, ela abriu um sorriso enorme e cínico de quem finge que nada está acontecendo. E com o mesmo brilho no olhar da noite retrasada, mostrou-me o chumaço em suas mãos. Era um jornal.

5 comentários:

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Precisa dizer q eu tava sentindo falta do veneno?
Depois de ter lido, precisa explicar o motivo?????

SIIIIIIIIIIIIII
_o_

Rafael Arcanjo Jr. disse...

simone, estou muito curioso pra ler as primeiras aventuras da mocinha dos andes, Lolita caliente!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Lolita caliente???????

O.O

Simone Azevedo disse...

é mesmo chefinho, eu tinha esquecido dela.
foi bom vc me lembrar.
Lolita caliente vai chegar!!!!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

vai chegar qdo?
eu já qro conhecê-la!!!