•.¸¸.ஐAs seis meninas
Quando duvido de minha existência, belisco-me. Essa frase é do Dalai Lama. Tem um eficaz sentido, porque que ela, em sua simplicidade, nos diz que a existência é de uma comprovação inegável, e que o niilismo é uma grande besteira inventada por certos filósofos que odeiam o corpo e bem que gostariam de ser a pura essência para não ter de conviver com as demais criaturas. O fato é que a gente existe. Em carne, sangue, nervos, veias, suor, dejetos e tudo o mais que nos dá a condição de haver nascido.
Existir assim, de modo tão palpável, tem suas desvantagens, como a dor de cabeça, a dor de uma rasgadura no joelho, a dor do envelhecimento, a dor da paixão não correspondida e outras dores tais. Porém, tem suas vantagens também. Por exemplo, quando, de repente, as narinas capturam um perfume de sabonete na curva de um braço ou quando um gosto de mel temperado com flor de laranjeiras adoça a ponta da língua, ou ainda quando uma imagem que se abre diante dos olhos faz bater mais forte o coração.
Nesse quesito último, na semana passada, tive uma experiência. Recebi, de uma comunidade do Orkut, uma fotografia de seis estudantes de jornalismo da Ufes. Seis meninas bonitas, com jeito de inteligentes. Todas elas sorrindo e com aquele ar de quem está de bem com a vida. Alguém que as conhece, com gentileza, ainda me esclareceu que elas têm bom humor, criatividade, alegria e formam um grupo seleto de estudos e de companheirismo. Essas garotas, tão jovens e tão cheias de graça, se chamam Brunella, Damiana, Gabriela, Roberta, Shamylle e Simone. No entanto, estava na foto e elas fazem questão de serem conhecidas como: “as Bernadettes”.
Confesso, amados leitores, que tive uma pontada de contentamento. Além disso, fiquei toda boba, toda cheia de mim. Imediatamente, dei uma espanada nas sombras que o mês de junho andava espalhando sobre minhas idéias. Sim, porque junho me foi um mês difícil, de mortes e de perdas, de frio e de pequenos temores. No entanto, bastou-me olhar aquela foto, tão clara, tão exata, tão plena do futuro como um raio de sol entre as trevas, para que o meu cérebro começasse a descongelar.
Afinal, foi como o beliscão de que fala o Dalai Lama, acima. Agradeço a delicada homenagem dessas meninas, sobretudo porque, através delas, percebi que nós, humanos, somos o que fazemos. E tudo o que fazemos, mais cedo ou mais tarde, deixa um rastro na totalidade do mundo.
Bernadette Lyra
Texto publicado no Caderno 2 de A Gazeta em 29 de junho de 2008.
domingo, 29 de junho de 2008
quinta-feira, 26 de junho de 2008
A venenosa. Por Simone Azevedo.
Segura que esse mico é seu
Os maiores micos da sua vida é a sua mãe quem te faz pagar? Quase sempre ela te deixa de cara vermelha e com vontade de ser tragado pela terra? Se a resposta foi sim, Os Micos da Mamãe foi feito especialmente para você. Se a resposta foi não, Os Micos da Mamãe também foi feito pensando em você. Afinal, se a mulher da sua vida ainda não fez você pagar um mico inacreditável, isso é só uma questão de tempo.
Ainda assim, suponhamos que ela nunca faça isso (um sonho utópico), ao menos você dará boas gargalhadas com uma ótima coletânea de mini-contos. Rir da desgraça alheia é bom demais!
A autora, Gabriela Zorzal, reuniu histórias hilárias e, acreditem, bizarras de pessoas dispostas a compartilhar os piores (para nós, leitores, os melhores!) micos das suas vidas. O resultado foi uma comédia deliciosa do começo ao fim.
Eu sei que você, leitor atento, percebeu algo familiar no nome da escritora. Sim, ela é da turma que escreve este blog. Imagino que você esteja me chamando de puxa-saco. Mas, fica uma dúvida: eu sou mesmo puxa saco, ou o livro é realmente bom? Você, pessoa inteligente, vai ficar com essa dúvida até quando?
terça-feira, 24 de junho de 2008
Pais, filhos e gays
A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história Humana
SERÁ POSSÍVEL escolher as preferências sexuais de um filho? Não, não falo de preferências por ruivas, loiras ou morenas. A questão, levantada pela cibernética "Slate", vai mais fundo: será possível mexer na base neurobiológica de uma criatura e "reprogramá-la" para ela gostar do sexo oposto?
Talvez. Conta a "Slate" que longe vão os tempos em que a homossexualidade era encarada como escolha pessoal ou produto do meio. A homossexualidade é um fato natural -como a cor dos olhos, a pigmentação da pele-, e estudos recentes apóiam a tese ao mostrarem diferenças visíveis no cérebro de homos e héteros.
Parece que os gays têm cérebros muito semelhantes aos das mulheres hétero. E parece que as lésbicas têm cérebros muito semelhantes aos dos homens hétero. Mas os estudos não ficam restritos a esse retrato. Os cientistas dão um passo além e sugerem que importantes influências hormonais, durante e pouco depois da gestação, determinam a constituição neurobiológica do indivíduo. E, se os hormônios desempenham papel principal, abre-se a porta prometida: "reorientar" os hormônios, "reorientar" a preferência sexual do bebê.
A possibilidade recebe aplausos. A Igreja Católica, confrontada com tal cenário, esquece a sua própria doutrina sobre os limites da manipulação médica e apóia decididamente a busca de uma "terapia" capaz de "curar" a "doença" homossexual.
Mais impressionante é a opinião da maioria: questionada sobre a possibilidade de conhecer a orientação sexual do filho por meio de um teste pré-natal, a generalidade não hesitaria em recorrer ao aborto ou à "reprogramação" caso a sexualidade da criança apontasse para o lado "errado". No fundo, quem não salvaria um filho do preconceito social ou da "doença" homossexual?
Fatalmente, a questão é desonesta. Aceitar as premissas do debate lançado pela "Slate" - aceitar, no fundo, que, por meio da ciência, é possível reverter a orientação sexual de um ser humano - é aceitar, implicitamente, que a homossexualidade é uma doença. E, aceitando-o, permitir que a medicina a trate exatamente como trata qualquer doença.
A realidade não legitima a fantasia. A síndrome de Down ou a espinha bífida, por exemplo, são doenças no sentido mais básico do termo: elas impedem que um ser Humano tenha uma vida plena. Podemos discutir se a medicina deve e pode "manipular" genética ou biologicamente uma vida Humana para erradicar esses males. E podemos discutir se esses males legitimam a interrupção da gravidez.
Mas essas discussões são distintas do problema inicial: reconhecer a Down ou a espinha bífida como fatores objetivamente incapacitantes de uma vida normal.
A homossexualidade não é uma doença. Pode ser motivo de preconceito social, dificuldade relacional, neurose pessoal -mas não é impeditiva de um funcionamento pleno do indivíduo nem põe em risco a sua sobrevivência futura.
Nada disso significa, porém, que não exista uma base neurobiológica capaz de explicar a orientação sexual. É possível e até provável. Exatamente como é possível e provável que certas propensões da personalidade humana -para a depressão, para a liderança, para a criatividade- estejam já inscritas na nossa natureza.
Mas isso não autoriza a medicina a procurar o paradigma do Super-Homem, dotado da dosagem certa de Humor, capacidade de chefia, talento para a pintura e para o sapateado. A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história Humana.
Resta a questão final: e os pais? Confrontados com a possibilidade de "reprogramarem" a orientação sexual de um filho ou de descartarem-no via "aborto terapêutico", terão os pais o direito de pedir à medicina esse instrumento seletivo e subjetivo?
Aceitar essa possibilidade é aceitar que, no futuro, os pais poderão determinar a vida futura dos filhos. Escolher a orientação sexual; o temperamento; a vocação intelectual; a excelência atlética ou estética.
Não duvido que a maioria, confrontada com tal hipótese, reservasse para a descendência o cruzamento ideal entre Brad Pitt, Albert Einstein e Pelé.
Mas um tal gesto seria uma tripla violência: contra a medicina e a sua função especificamente curativa; contra o mistério e a diversidade da vida humana; mas também contra os próprios filhos, condenados a habitar vidas que não lhes pertenceriam, mas que foram desenhadas pela vaidade, soberba e tirania de seus progenitores.
Texto: João Pereira Coutinho
Fonte: Folha de São Paulo Online, 24/06/2008.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2406200820.htm
Para ler, tem que ser assinante.
Minha opinião
Isso é deplorável! Sinto uma revolta tão grande quando leio uma barbaridade como essa. No momento, Alanis traduz melhor do que eu o que sinto.
Discover Alanis Morissette!
De vez em quando nunca é o bastante / Se você é impecável, então ganhará meu amor / Não esqueça de tirar primeiro lugar / Não esqueça de manter aquele sorriso em sua face
Seja um bom menino / Tente um pouco mais / Você tem que se impor / E me fazer orgulhosa
Quanto tempo antes de reparar? / Quantas vezes tenho que lhe dizer para se apressar? / Com tudo que faço por você / O mínimo que você pode fazer é ficar quieto
Seja uma boa menina / Você tem que tentar um pouco mais / Aquilo simplesmente não foi bom o bastante / Para nos orgulharmos
Viverei de acordo com você / Farei de você o que nunca fui / Se você é o melhor, então talvez eu também seja / Comparado com ele, comparado com ela / Estou fazendo isto para seu próprio e maldito bem / Você compensará tudo que sofri / Qual é o problema... por que está chorando?
Seja um bom menino / Force um pouco mais agora / Aquilo não foi rápido o bastante / Para nos fazer feliz / Nós te amaremos pelo que você é, SE VOCÊ FOR PERFEITO
E você, o que acha disso? COMENTE!
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Bem senhoras e senhores. Por Brunella França
Depois de um longo período sem nada produzir para o Jota-I, cá estou eu novamente. E, novamente, porque preciso falar de futebol. Acabo de assistir à partida Brasil X Argentina pelas Eliminatórias da Copa de 2010. O resultado jogo - empate sem gols - não é lá tão importante para o que quero escrever.
Desde já, assumo o risco de ser apedrejada pelos corredores dos Cemunis da Ufes e de ver o meu pai descontente com este texto. Estou aqui porque quero falar da Argentina. Não amigos - ou hermanos -, não está escrito errado, vocês estão lendo corretamente. Para desgosto daquele que me ensinou tudo de futebol, neste coração verde-amarelo (torço fervorosamente pela seleção feminina de futebol), há um lugar todo especial reservado ao azul celeste da camisa argentina.
Eu gosto do futebol argentino, da garra, da qualidade do toque de bola, da forma como o time se coloca em campo, de ver onze jogadores jogando numa espécie de um por todos e todos para um.
E estou aqui para dizer que não consigo admitir que a seleção que há tempos - mesmo que não tenha ganho nenhum título -, em conjunto, é a melhor seleção do mundo, seja tão mal treinada e mal escalada. Desculpem-me, mas pela qualidade de jogadores que a Argentina tem é inadimissível que Alfio Basile continue sendo técnico desta equipe. Ele consegue ser pior que o Dunga!
Irritou-me ver a camisa 9 da azul celeste ser entregue a um jogador tão grosso e pouco hábil, como é Julio Cruz. Onde estavam Palermo, Palacio, Tevez, Aguero, Saviola? Por que essa insistência burra de colocar Messi para jogar fora de sua posição em campo? Assim não dá! Menos mal que a meta argentina continua muito bem guardada por Abbondanzieri.
E em meio a todo meu descontentamento, só continuei assistindo àquela partida medíocre por causa de um jogador. Adriano? Robinho? Diego? Luiz Fabiano? NÃO! Juan Román Riquelme. A qualidade do passe desse jogador é algo lindo de se admirar. Cercado por três marcadores, com apenas um toque, ele deixa o companheiro na cara do gol - que o hermano perdeu, mas não importa. Vale a pena ver a genialidade de Riquelme com a bola, a afinidade com que os dois se tratam. Ele fala com os pés e ela obedece, caprichosa!
Há quem diga - e não são poucos - que Cristiano Ronaldo, o atacante - mascarado - português, seja o melhor jogador do mundo. Da temporada européia pode até ser - desde que se descontem as finais que ele disputa. Mas, na humilde opinião desta colunista, hoje, o melhor jogador do mundo é o dono da camisa 10 da Argentina, Juan Román Riquelme.
Sobre a seleção brasileira?
*espírito Copélia baixando*
Prefiro não comentar!
Desde já, assumo o risco de ser apedrejada pelos corredores dos Cemunis da Ufes e de ver o meu pai descontente com este texto. Estou aqui porque quero falar da Argentina. Não amigos - ou hermanos -, não está escrito errado, vocês estão lendo corretamente. Para desgosto daquele que me ensinou tudo de futebol, neste coração verde-amarelo (torço fervorosamente pela seleção feminina de futebol), há um lugar todo especial reservado ao azul celeste da camisa argentina.
Eu gosto do futebol argentino, da garra, da qualidade do toque de bola, da forma como o time se coloca em campo, de ver onze jogadores jogando numa espécie de um por todos e todos para um.
E estou aqui para dizer que não consigo admitir que a seleção que há tempos - mesmo que não tenha ganho nenhum título -, em conjunto, é a melhor seleção do mundo, seja tão mal treinada e mal escalada. Desculpem-me, mas pela qualidade de jogadores que a Argentina tem é inadimissível que Alfio Basile continue sendo técnico desta equipe. Ele consegue ser pior que o Dunga!
Irritou-me ver a camisa 9 da azul celeste ser entregue a um jogador tão grosso e pouco hábil, como é Julio Cruz. Onde estavam Palermo, Palacio, Tevez, Aguero, Saviola? Por que essa insistência burra de colocar Messi para jogar fora de sua posição em campo? Assim não dá! Menos mal que a meta argentina continua muito bem guardada por Abbondanzieri.
E em meio a todo meu descontentamento, só continuei assistindo àquela partida medíocre por causa de um jogador. Adriano? Robinho? Diego? Luiz Fabiano? NÃO! Juan Román Riquelme. A qualidade do passe desse jogador é algo lindo de se admirar. Cercado por três marcadores, com apenas um toque, ele deixa o companheiro na cara do gol - que o hermano perdeu, mas não importa. Vale a pena ver a genialidade de Riquelme com a bola, a afinidade com que os dois se tratam. Ele fala com os pés e ela obedece, caprichosa!
Há quem diga - e não são poucos - que Cristiano Ronaldo, o atacante - mascarado - português, seja o melhor jogador do mundo. Da temporada européia pode até ser - desde que se descontem as finais que ele disputa. Mas, na humilde opinião desta colunista, hoje, o melhor jogador do mundo é o dono da camisa 10 da Argentina, Juan Román Riquelme.
Sobre a seleção brasileira?
*espírito Copélia baixando*
Prefiro não comentar!
terça-feira, 17 de junho de 2008
Quero ser Miriam Leitão. Por Sylvia Ruth.
Entrevista com tio Habermas. (acredite ele ainda não morreu)
Jürgen Habermas, filósofo, sociólogo e alemão, aliado à Escola de Frankfurt. O Oceano Atlântico e o idioma não impediram o JI de realizar uma reveladora entrevista com esse pesquisador que nos ensinou sobre as coisas da vida.
JI: Sobre o baile funk. Aqueles corpos se movimentando provocativamente ao som daquela música repetitiva, o que representam?
H: “A decadência identifica-se abertamente com a barbárie, reconhece-se naquilo que é selvagem e primitivo”.
JI: E a distorção da atual moda emo, que se espalha por nossa juventude impiedosamente. Como entender esse movimento que nega a si próprio?
H: “Tal [negação a si próprio] é o motivo oculto dos melhores poetas da modernidade”.
JI: Mas, dada a má qualidade, o emo seria a exceção que justifica a regra?
H: “É verdade...”
JI: E como entender que a legging tenha voltado com tanta força? A gente sabe o que fica bonito por cima, mas o que está por de trás dela?
H: “A moda sabe farejar aquilo que é atual mesmo quando evolui nas florestas do passado”.
JI: Uau... Mas, o senhor deve saber sobre a igreja Tabernáculo Vitória. Como o senhor percebe esse movimento?
H: “Renovação religiosa (...) que fornece aos indivíduos certezas existenciais”.
JI: Sobre a novela das oito, Duas Caras, da onde vem tanta frieza para o Dalton Vigh ter passado a mocinha para trás daquele jeito?
H: “Empobrecimento do mundo vivido, cujas tradições, isto é a substância, são desvalorizadas”.
* Respostas livremente extraídas do discurso “A modernidade: um projeto inacabado”, de Jüngen Habermas, datado de 1987.
Jürgen Habermas, filósofo, sociólogo e alemão, aliado à Escola de Frankfurt. O Oceano Atlântico e o idioma não impediram o JI de realizar uma reveladora entrevista com esse pesquisador que nos ensinou sobre as coisas da vida.
JI: Sobre o baile funk. Aqueles corpos se movimentando provocativamente ao som daquela música repetitiva, o que representam?
H: “A decadência identifica-se abertamente com a barbárie, reconhece-se naquilo que é selvagem e primitivo”.
JI: E a distorção da atual moda emo, que se espalha por nossa juventude impiedosamente. Como entender esse movimento que nega a si próprio?
H: “Tal [negação a si próprio] é o motivo oculto dos melhores poetas da modernidade”.
JI: Mas, dada a má qualidade, o emo seria a exceção que justifica a regra?
H: “É verdade...”
JI: E como entender que a legging tenha voltado com tanta força? A gente sabe o que fica bonito por cima, mas o que está por de trás dela?
H: “A moda sabe farejar aquilo que é atual mesmo quando evolui nas florestas do passado”.
JI: Uau... Mas, o senhor deve saber sobre a igreja Tabernáculo Vitória. Como o senhor percebe esse movimento?
H: “Renovação religiosa (...) que fornece aos indivíduos certezas existenciais”.
JI: Sobre a novela das oito, Duas Caras, da onde vem tanta frieza para o Dalton Vigh ter passado a mocinha para trás daquele jeito?
H: “Empobrecimento do mundo vivido, cujas tradições, isto é a substância, são desvalorizadas”.
* Respostas livremente extraídas do discurso “A modernidade: um projeto inacabado”, de Jüngen Habermas, datado de 1987.
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