segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ave Franklin!, por BruneLLa França

Por uma blogosfera livre!

O jota-i entra também na campanha pela blogosfera livre.
O resumoé o seguinte: blogueiro Antonio Arles (estudante de História da USP, militante de movimentos sociais, ciberativista) versus grupo Folha.

Mais informações sobre o caso, você encontra aqui, aqui e aqui.

E o que diz o estudante? Confira nessa entrevista, retirada do blog Vi o mundo.


Antonio Arles: Aproximadamente às 14 horas, quando saía de casa para a USP. Minha mulher [Flávia] manobrava o carro na garagem e eu esperava na calçada. Aí, fui abordado por um motorista de táxi, que perguntou se eu era Antonio. À confirmação, apontando na direção de um táxi parado no lado oposto à minha casa, disse: “Ela quer falar com você”.

Viomundo: Ela era quem?

Arles: Uma mensageira do escritório de advocacia que representa o jornal e o portal. Ela limitou-se a dizer que havia uma correspondência para mim e pediu-me que assinasse o protocolo de recebimento. Como estava atrasado para a aula, abri o envelope no caminho. Aí, eu vi que se tratava de uma notificação extrajudicial dos advogados da empresa pelo uso indevido da imagem na campanha pelo cancelamento das assinaturas da Folha e do Uol.

Viomundo: A campanha começou quando?

Arles: Domingo passado.Na sexta-feira passada [27 de novembro], em função da publicação do artigo Os filhos do Brasil, do César Benjamin, começou no twitter um movimento para cancelamento das assinaturas. No domingo, como já havia muitas adesões, resolvemos lançar a campanha.

Viomundo: É uma campanha do seu blog?

Arles: Não. É de várias pessoas da blogosfera. Para facilitar o acesso, eu coloquei os links das imagens no meu blog. A partir daí o pessoal foi disseminando.

Viomundo: O que contêm essas imagens?

Arles: As marcas da Folha e do Uol.

Viomundo: Qual a alegação dos advogados?

Arles: Uso indevido da imagem. No final da tarde, fiz o que notificação determinou: retirei as imagens do ar. Consequentemente a própria campanha do meu blog.

Viomundo:
O que você pretende fazer agora?

Arles: Meu advogado está estudando medidas legais cabíveis contra essa postura da Folha. Considero intimidação. É cerceamento à liberdade de expressão.

A notificação da Empresa Folha da Manhã SA e do Universo Online SA afirma que "a marca da Folha e do Uol foram indevidamente utilizadas, agravando-se tal fato pelo seu denegrimento", e reproduz as imagens que ilustram esta matéria. "tal atitude fere diversos dispositArtigo 189, I, ivos legais, constituindo crime previsto no Artigo 189, I, da Lei nº 9/279/96".

O Viomundo observa a respeito que "denigrir [ou, como prefere a notificação, denegrir} é um termo racista. Significa tornar negro, em sentido pejorativo. Há outras palavras para expressar o que desejam, mas recorrem a uma com conotação preconceituosa, que associa o tornar-se negro a algo negativo. Denigrir, segundo o dicionário do Houaiss, quer dizer também diminuir a pureza, o valor de; conspurcar(-se), manchar(-se)."

terça-feira, 16 de junho de 2009

Sociabilidade tecnológica: o descrédito do próximo, a perda do outro e a dúvida de si mesmo

Resumo
A cultura da virtualidade proporcionada pelos meios eletrônicos de comunicação (re) cria toda uma conjuntura de relações pessoais e de trocas simbólicas. A interação face a face, em certa medida, dá lugar à interação mediada pela tecnologia. O presente artigo se propõe a explicitar algumas maneiras de como o desenvolvimento dos meios técnicos de comunicação transformou as formas de sociabilidade, criou novas formas de identidade pessoal, alterou as formas de percepção do individuo sobre o outro e modificou as maneiras de transmissão, recepção e decodificação de bens simbólicos.

Palavras-chaves: mídia, comunicação, interação, sociabilidade, identidade e modernidade.

Introdução
É crédito dos chamados teóricos da mídia e da modernidade, tais como Stuart Hall e John B. Thompson, terem realçado o fato de que o desenvolvimento dos meio técnicos serve para reorganizar e reconstituir a interação social. Esses teóricos argumentam que o surgimento de novos meios técnicos possui um impacto fundamental nas maneiras como as pessoas reconhecem a si próprias e como agem e interagem umas com as outras. Hall analisa que “quanto mais a vida social se torna mediada [...] pelas imagens de mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades [...] parecem flutuar livremente” (Hall, 2006, p.75). Segundo seus estudos, o resultado disso é uma fragmentação das tradições culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, por se encontrarem com fronteiras menos definidas, provocam no individuo uma crise de identidade. Para Thompson, a cultura moderna é, de uma maneira cada vez maior, “‘uma cultura eletronicamente mediada’, em que os modos de transmissão orais e escritos foram suplementados e, em até certo ponto substituídos, por modos de transmissão eletrônicos” (Thompson, 1995, p. 297).

O reflexo das transformações da identidade na sociabilidade
O sujeito é o elemento central das interações sociais. Por isso, cabe destacar a relevância do conceito de sujeito pós-moderno feito por Hall. Segundo o teórico, diferentemente do sujeito do Iluminismo cuja base é a concepção do individuo totalmente unificado e centrado, e do sujeito sociológico cuja essência é formada a partir da interação entre o inato e o mundo exterior, o sujeito pós-moderno “assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente” (Hall, 2006, p. 13). Diante dessa concepção, a questão da identidade na pós-modernidade assume uma diversa pluralidade. As identidades tornaram-se menos fixas e mais fluidas. Essa fluidez é, também, resultado e resultante da inovação tecnológica. Os meios técnicos possibilitam às pessoas comunicarem-se de maneira eficiente ao mesmo tempo em que as condicionam a adaptarem seus comportamentos para corresponder ás novidades oferecidas pelo desenvolvimento dos novos meios de comunicação. Thompson avalia que “ao separar a interação social do local físico, o desenvolvimento dos meios técnicos afeta, também, as maneiras como, e o quanto, os indivíduos são capazes de gerenciar sua auto-representação” (Thompson, 1995, p. 302). O exemplo que utiliza para fundamentar sua teoria é o de uma conversa telefônica entre sócios comerciais, na qual um deles ou ambos poderiam procurar suprimir ruídos do local físico para que a imagem que desejariam projetar fosse compatível com o referencial interativo.
Outro ponto importante da análise de Thompson é o estabelecimento de novos contextos e formas de interação onde as pessoas estão rotineiramente integradas na recepção e apropriação das mensagens mediadas pelos meios. As pessoas condicionam seus comportamentos não só para enviar como também para receber os conteúdos midiáticos. O telefone fornece outro exemplo bastante ilustrativo. Quando um empresário ou alguém em cargo de chefia contrata uma secretária, a função específica desta, além de lidar com a documentação referente ao trabalho do chefe, é atender ao telefone. O simples ato da contratação de uma secretária demonstra um condicionamento comportamental dos indivíduos envolvidos em função da adequação ao produto mediador que é, no caso, o telefone.
Interações mediadas implicam, como fala Thompson no livro A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia, em um estreitamento da possibilidade de deixas simbólicas trocadas entre os interlocutores. “Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da ambigüidade na comunicação” (Thompson, 2005, p. 79). Uma carta comercial, por exemplo, possui menos deixas simbólicas do que uma conversa telefônica que trataria do mesmo assunto. A carta não possibilita os símbolos próprios da oralidade: entoação da voz, pausas mais ou menos prolongadas entre as palavras ou as frases, etc. Em contrapartida, uma conversa telefônica inviabiliza toda uma gama de deixas simbólicas que só seriam possíveis em uma conversa face a face: expressões faciais, linguagem corporal, sustentação ou não do olhar, etc.
Os meios técnicos possibilitam às pessoas interagir umas com as outras através de distâncias temporais e especiais. É, dessa forma, característica dos meios técnicos separar a interação social do local físico, ampliando as possibilidades de interação. Para Thompson isso é uma conseqüência positiva uma vez que “os meios de comunicação de massa ampliam a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e no espaço” (Thompson, 1995, p. 299) permitindo tipos específicos de interação mediada e de trocas simbólicas entre produtores e receptores. As trocas de e-mails, por exemplo, servem para ilustrar a gama de possibilidades de interação social independentemente da situação espaço-temporal vivenciada pelos participantes. Em contrapartida, Thompson acredita que a constituição espacial e temporal da interação mediada restringe a natureza das relações formadas através dessa interação. “Uma pessoa conhecida apenas através das conversações por telefone é, literalmente, uma pessoa sem rosto e, na maioria dos casos, é improvável que ela se torne objeto de um laço emocional profundo” (Thompson, 1995, p. 302).
A compressão espaço-tempo proporcionada pelo desenvolvimento dos meios técnicos altera também, de acordo com Hall, os sistemas de representação. “O tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação” (Hall, 2006, p. 70). O teórico explica que a pintura, a escrita, a fotografia, e todas as formas que o homem utiliza para representar a si mesmo, aos outros e aos lugares que o rodeiam carregam seus referencias de espaço e de tempo. Se os referencias se alteram, a representação que o homem faz deles também se altera. Sendo o homem espelho da realidade que o cerca e, sendo na modernidade essa realidade fragmentária e dispersa, o homem “vê a si próprio/a espelhado nos fragmentos e fraturados rostos que olham os planos e superfícies partidos de uma das pinturas cubistas de Picasso” ( Hall, 2006, p. 71).

Considerações finais
A construção da realidade, na qual privilegia-se a informação midiatizada em detrimento da informação dos sentidos cria uma sensação de volatilidade diante da vida. O resultado disso parece ser o inicio de um colapso da comunicação social devido a um progressivo isolamento individualista na medida em que sujeitos sem face praticam uma sociabilidade dispersiva em um espaço físico que, na era da tecnologia da informação, é suplementado por um espaço social dilacerado pela velocidade e pela aleatoriedade. Tudo se dilui conforme as regras da tirania do fugaz, como descreve John Berger (2004, p. 218): “É um espaço sem horizonte. Tampouco há continuidade entre as ações, em pausas, nem atalhos, nem linhas, nem passado, nem futuro. Vemos apenas o clamor de um presente desigual e fragmentário. [...] O que vemos é uma espécie de delírio espacial.” Há um embaralhamento dos tempos e, as noções de passado, presente e futuro perdem significado. É o que Lyotard chama de “fim das grandes narrativas”.
O espaço público representado pela cidade e seus ambientes de socialização está sendo solapado pelo espaço domiciliar equipado pelos aparatos tecnológicos. “Na atualidade frenética, as relações tendem a virtualizar-se ou telerrealizar-se no cenário de midiatização, caracterizado por mediações e interações baseadas em dispositivos teleinformacionais” (Sodré, 2002, p. 21-25). No discurso legitimador dessas transformações sociais, o mito da intensidade se sobrepõe à importância da durabilidade. E a quantidade à qualidade. “O parâmetro com que se mede o valor da experiência tende a ser sua capacidade de produzir entusiasmo, não a profundidade de suas impressões” (Bauman, 2004, p. 231).
Ainda citando Bauman, em Modernidade Líquida, o autor lembra que historicamente “o progresso era identificado com o abandono do nomadismo em favor de um modo de vida sedentário” (2001, p. 214). Porém na era da virtualidade “as populações sedentárias sitiadas recusam-se a aceitar as regras e riscos do novo jogo de poder ‘nômade’, atitude que a nova elite global acha extremamente difícil de entender e não pode perceber senão como um sinal de retardamento e atraso” (2001, p. 226).

Referências bibliográficas

BAUMAN, Zigmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BERGER, John. El tamaño de uma bolsa. Buenos Aires: Taurus, 2004.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
SODRÉ, Muniz. Antropologia do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis: Vozes, 2002.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social critica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Bem senhoras e senhores. Por BruneLLa França.

gica da bola

Na infância, mágica costumar vir sempre associada a um objeto. A tal varinha. Quantos não sonhamos em ter uma delas? Mas, nem só de varinha vive o reino da magia. Num primeiro olhar, ela não tem nada de especial. Num segundo também não. Num terceiro, continua a não ter.

Observada atentamente, uma bola de futebol não parece mesmo promissora para a magia. Sozinha, ela é tão comum quanto qualquer outro objeto. Assim como a varinha, a bola não faz mágica sozinha. A varinha precisa da mão do mágico. A bola, do pé.

Chuta, rola, passa, corre, dribla, voa, pedala. Ao contrário da varinha, que toca outros objetos e os faz encantados, a bola encanta a si mesma ao encontrar o talentoso toque dos pés.

Não sabemos explicar como uma simples varinha faz surgir um coelho de dentro de uma cartola; como faz alguém desaparecer e depois reaparecer. Parece tão fácil. Também parece fácil quando vemos grandes mágicos com a bola nos pés encontrando espaço entre quatro jogadores e saindo sozinho para fazer o gol.

Mas existem mágicas que não se explicam. Faltam palavras! Assim como existem mágicos da bola que não se explicam. Também faltam palavras. Rainha? Alteza? Gênia? Majestade? Que ‘nome’ dar para ela? Como definir o que ela faz com a bola nos pés? Arte? Mágica? Não sei.

Assim como acompanhamos um mágico fazer alguém flutuar, também acompanhamos as jogadas dela. É o mesmo encanto. É a mesma magia. Brilham os olhos. No final, aplausos, gritos entusiasmados, assovios, tudo junto.

Até mesmo o maior dos mágicos deve tirar a cartola para ela. O controle sobre a bola é feito de forma inexplicável. Como se tivessem nascido uma para a outra. Do diálogo entre pés e bola, nascem jogadas antológicas, que marcarão para sempre.

A matéria-prima da mágica é o sonho. A do futebol, também. E desde que nasceu essa Mágica no mundo da bola, as coisas nunca mais foram as mesmas. O gramado vira tapete vermelho quando ela joga; as redes vertem ambrosia quando ela faz gol; adversários se transformam em súditos e aplaudem de pé.

O mundo da bola se curva aos pés da alquimista que transforma ouro em sonho e melhor do mundo em sinônimo de Marta.

*reverências*


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